terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O INDIVÍDUO FRAGMENTADO

Por Marcelo Adriano Nunes de Jesus




Qual a condição sine qua non para se reconhecer como verdadeiro um sentimento que brota em nossos corações em relação a uma pessoa? O desejo em estar juntos? A excitação? A beleza? A inteligência? O charme? O afeto? O amor? A cumplicidade? A verdade? Ou uma condição material confortável? E quando todos esses elementos ou parte deles se encontram materializados nas ações do objeto manifesto? Qual a sua resposta ao seu coração? Apesar de algumas possíveis dificuldades, você o assume e enfrenta a situação por mais adversa que possa parecer, ou o deixa escapar por acreditar no amor perfeito? E quando é o dinheiro que tem o maior peso? É possível amar uma pessoa apenas pelo dinheiro que ela tem? Cuidado com a sua resposta, pois existem pessoas que vivem com outras apenas por esse pequeno e insignificante detalhe.
Refletindo acerca do Fausto de Goethe e Assim Falou Zaratustra de Nietzsche, não foi difícil concluir que a maioria das pessoas gostaria de viver uma outra vida. Sim, uma vida talvez repleta de sentidos, já que quando se esboça tal ideia, isso sugere que não se está nada satisfeito com a atual condição. Mas a questão é: por que desejamos uma outra vida já que temos a oportunidade de reescrever a nossa história nesta? O que nos torna tão limitados em relação a nós mesmos e ao nosso suposto amor a ponto de desejar uma outra vida? Quantos de vocês, que agora estão lendo este texto, arriscariam viver plenamente um amor se todos os substantivos elencandos acima e mais alguns não citados estivessem reunidos naquela pessoa que mexe tanto com você, mas que por outro lado você afirma conhecer tão pouco para se entregar e assim perde a oportunidade de amar de verdade? Já parou para pensar nas consequências que isso terá em sua vida doravante? Não?! Pois deveria. Você se conhece? Sabe exatamente seus limites em relação à dor da perda? Conhece verdadeiramente seus medos? E quanto ao amor, o que ele representa para você? Você acredita na sua existência, crê na possibilidade de viver um amor hollywoodiano? Não?! Que pena, pois é possível!
A leveza da vida é insustentável, basta olhar ao redor e perceber às inúmeras oportunidades que temos; sim, e elas se renovam a cada novo dia, mas o caminho sugere que comecemos fazendo o outro feliz, ainda que essa ação seja representada por um simples “bom dia”. Entretanto, o medo, aliado à ignorância de nossas incertezas e dúvidas em relação a situações que não controlamos e nunca haveremos de controlar, é que faz com que não raro, percamos de vista a nossa própria beleza. É como se ficássemos míopes de nós mesmos, e isso faz com que não consigamos enxergar as flores que os outros nos trazem todos os dias para enfeitar nosso jardim da vida. Você já regou o seu jardim hoje? E quanto às flores, elas vieram?
O tempo é implacável com tudo o que existe. Nada, absolutamente nada, escapa ao seu eterno tic-tac.
Não permita que criem em você um Doutor Fausto nem tampouco uma Gretchen . Aprecie a vida em toda sua plenitude, acredite que o amor existe e é lindo e maravilhoso vivê-lo, mas também não perca de vista o fato inexorável do tic-tac... Tudo passa, e tudo também acaba, afinal, tudo o que é sólido desmancha no ar.

A luta continua.


Personagens do livro Fausto, de Goethe.
Ibidem.