A recente tragédia que vitimou fatalmente 12 crianças e adolescentes no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, esta longe de ser compreendida pelos caminhos trilhados até aqui. É preciso antes afastar-se do óbvio e atacar a sua verdadeira intenção: a divulgação.
Não é difícil de se compreender que atos dessa natureza essencialmente objetivam mídia. Em sua quase totalidade esses assassinos são pessoas que não conseguem lidar com suas frustrações e consideram todos à sua volta culpados pelos seus insucessos na vida e precisam de algo que lhes dêem sentido, mesmo que esse sentido venha através de atos extremos.
Nesse contexto, o “espetáculo” criado por esses assassinos apresenta-se como grandioso indiscutível e inacessível ao entendimento. Sua única mensagem é “o que aparece é bom, o que é bom aparece”. A atitude que ele exige por princípio é aquela aceitação passiva, que na verdade, ele já obteve na medida em que aparece sem réplica, com duas armas em punho e pelo seu monopólio da aparência e que a todos choca. Ele é o sol que não tem poente no império da passividade moderna e que nada tem a ver com religiosidade.
Vivemos em um modelo social perverso que gera inúmeras frustrações. É o sujeito que não consegue lidar com a separação de seus pais; é o recém formado que não consegue emprego; é o aluno que não consegue suportar uma nota vermelha em seu boletim; são pais que fazem questão de preparar seus filhos apenas para serem vencedores e vários outros exemplos dessa natureza.
No lado oposto, se tem os comerciais televisivos de carros que falam em valores de cinco, seis, sete dígitos como se fossem acessíveis à maioria das pessoas; são “convites” à viagem de férias para um país com um número absurdo de miseráveis, além, é claro, da maior de toda estupidez televisiva: os “big brothers”. Sim, o sistema adoece as pessoas, mas de forma alguma justifica ações terroristas e assassinas.
A imprensa, por seu turno, é co-partícipe desses eventos, pois sua maior preocupação é o lucro, independente de que forma ele venha. Enquanto se continuar a dar IBOPE a esses psicóticos em último grau decerto que outros se sentiram encorajados a cometer o mesmo ato insano.
Reafirmo mais uma vez que o caminho para se tentar evitar novamente essas situações excepcionais passa pelo papel da imprensa. Não adianta se criar um estado policialesco em torno da escola, isso é um absurdo e não irá impedir outras ações desse tipo. Mas o caminho passa em se evitar ao máximo a exposição de assassinos e pelo conceito de “ética” empregado pela imprensa. É preciso reinventar a sociedade e seus valores.
Hoje percebo que a rotina diária das escolas, dos parques, dos abraços e beijos costumeiros, talvez não seja apenas infinitamente bela e festiva, mas também infinitamente frágil e precária; manter essa vida exige talvez esforços desesperados e heroicos, mas às vezes perdemos.
Ivan Karamazov diz que, a morte de uma criança lhe dá ganas de devolver ao universo o seu bilhete de entrada. Mas ele não o faz. Ele continua a lutar e a amar; ele continua a continuar. Esse é o meu sentimento.
Bom Jesus do Norte, 12 de abril de 2011.
Marcelo Adriano Nunes de Jesus.