Seguramente posso dizer que sou uma pessoa extremamente de sorte, principalmente se levado em consideração o berço em que nasci e os presentes que a vida me concedeu e concede. Sou o mais velho quatro irmãos, todos trabalhadores e pessoas de bem. Quando meus pais se separaram eu estava com 11 anos, e para nós, foi muito difícil conviver com essa tragédia que separou nossa família. Antes da separação era comum ver meu pai chegar em casa após um dia de trabalho e colocar na “vitrola” um “LP” de Roberto Carlos e passar horas ao lado da minha mãe ouvindo suas canções. As letras de suas músicas falavam de amor profundo e também de algumas dores da alma. Naquela época eu não entendia os significados de “amor verdadeiro”, “amor eterno”, “felicidades plenas” e coisas do tipo. Eu era muito jovem para entender essas questões, mas eu achava que a tradução perfeita daquilo que o Roberto falava em suas músicas era o que eu via acontecer com meus pais naqueles momentos em que passávamos juntos.
Meus pais me legaram muito mais que uma boa educação, principalmente se levado em consideração a ética que por eles nos foi passada. Deles, também recebi dois irmãos e uma irmã que são a minha paixão. Tenho muito orgulho, admiração e muito amor pelos três.
Bem, eu cresci e assim como meus pais também me casei e tive duas filhas e igualmente passei pelas mesmas dores do meu pai quando veio a minha separação. Sinceramente achei que iria morrer de tanta dor quando ela chegou, mas como disse, me considero uma pessoa de muita sorte.
Passei seis anos da minha vida casado. Quando me separei, fiquei mais ou menos uns dois anos sem nenhum tipo de relacionamento. Nesse período, optei em me dedicar aos estudos e também aproveitei para fazer um balanço da minha vida e tentar enxergar onde eu tinha errado. Vi que tinha errado bastante naquele relacionamento, mas aprendi muito com a imagem que vi refletida no espelho da minha vida e sobretudo com o preço que fui obrigado a pagar. Infelizmente foi um custo muito alto que eu não paguei sozinho. Minha ex-mulher, minhas filhas e toda a nossa família também arcou com esse pesado ônus em que eu tive a maior parcela de (ir) responsabilidade. Mas nenhuma dor dura para sempre e o destino estava me preparando uma bela surpresa.
Em 2004 quando junto com alguns colegas fui fazer a inscrição para o concurso do magistério do estado do Rio de Janeiro, uma das exigências do certame era que deveríamos colocar no formulário de inscrição o município em que gostaríamos de trabalhar caso fossemos aprovados. A lógica, seria optar por um bairro próximo á residência, e foi isso que meus amigos fizeram, mas quando chegou a minha vez, vi que na nossa frente havia um mapa do estado. Simplesmente fechei meus olhos e disse: “ - aonde meu dedo bater, será o lugar que colocarei como opção – “. Todos ficaram espantos com a minha atitude; mais ainda com o resultado. Meu dedo apontou para uma cidadezinha chamada “Espera Feliz”, município mineiro que faz divisa com o estado do Rio. Desta feita, disse que a primeira cidade ao Sul de onde meu dedo apontasse seria meu local de escolha. Deu Varre-Sai, cidade que compreende a região do Noroeste Fluminense, assim como Natividade, Porciúncula e Bom Jesus do Itabapoana. Até a funcionária que fazia as inscrições ficou surpresa com o que acabara de fazer.
Dias depois fizemos a prova e fui classificado em 3º lugar. Nossa, como fiquei feliz com o resultado! Porém, dois dias após a publicação a prova foi cancelada por suspeita de vazamento do gabarito. Dessa vez fiquei muito triste e decepcionado e disse para mim mesmo, meus familiares e amigos que não iria fazer outra prova, pois aquilo me parecia “armação”. Na véspera da nova prova, sai e passei a noite na isbórnia. Fui a um barzinho que gosto muito na Vila da Penha e se não me falha a memória sai de lá mais ou menos às 3 horas da manhã e de porre. Nessa época eu morava na Barra da Tijuca com meus tios os quais para mim são como meus segundos pais. Quando cheguei em casa, sequer a roupa eu tirei. Deitei com roupa e tudo. Não sei se devido ao porre, mas quando minha tia me acordou tive a imprensão de ter deitado naquele instante. Não queria levantar e disse-lhe que não iria fazer a prova. Minha querida tia abriu todas as janelas, ligou a tv do quarto fez o maior barulho e me disse que já que eu passara a noite na “farra”, agora eu iria levantar, tomar um banho e fazer a prova. Não ousei desobedecê-la.
Caindo pelas tabelas lá fui eu para o Largo do Machado. Acho que levei umas duas horas para fazer toda a prova. Não que ela estivesse fácil, mas eu estava muito cansado e ansioso para voltar para casa e dormir. Dois dias depois saiu o gabarito e pelo resultado considerei ter feito uma boa prova, apesar das minhas condições nada boas, rs. Daí duas semanas o resultado final. Classificado em oitavo lugar. É aí que a minha história de vida (re) começa...
Mesmo tendo sido bem classificado no concurso o estado levou dois anos para me convocar. Cheguei em Bom Jesus do Itabapoana no dia 30 de junho de 2006. Um detalhe: eu não conhecia a cidade. Quando desembarquei na rodoviária às 6 horas da manhã, cerrei meus olhos e tive a nítida imprensão de que eu seria muito feliz naquela cidade. Apresentei-me na Coordenadoria que à época se localiza em um anexo ao Colégio Estadual Padre Melo. Era um colégio enorme e muito bonito. Fiquei encantado com a estrutura da escola. Lá, fui informado que deveria fazer a escolha da escola que eu gostaria de trabalhar. Ora, eu não conhecia nada naquela cidade nem tampouco Varre-Sai. Naquele mesmo dia conheci a diretora do Padre Melo, a professora Carla Moraes. Muito solícita e educada, sugeriu que como eu não conhecia nada, seria melhor se eu ficasse em Bom Jesus do Itabapoana, mas precisamente no Padre Melo, pois ali havia uma vaga para professor de história. Não tive dúvidas: fiquei no Padre Melo.
Ao sair dali e me hospedar no Big hotel soube que na semana seguinte haveria uma festa em Rosal e Apiacá, esta última localizada no Espírito Santo. No dia seguinte, voltei para o Rio, arrumei minhas coisas e voltei definitivamente para Bom Jesus do Itabapoana.
Nesse tempo, fiz algumas amizades, afinal, fiquei morando no hotel. Dentre essas amizades havia a Marina, uma manicure muito divertida e alegre. Foi ela quem me convidou a ir a um baile no Clube da Terceira Idade. Sinceramente pensei em declinar ao convite. O que eu faria num clube da terceira idade, imaginei? Mas resolvi aceitar o convite. Após dar uma passada em Rosal e Apiacá para conhecer as cidadezinhas fui ao tal clube, e foi lá que eu reconheci o meu grande amor.
Mal cheguei e a vi. Ela estava linda. Vestia blusa preta e calça branca. Fiquei encantado com aquela beleza e também com a sua leveza. Eu não estava enganado, vi em seus olhos que ela era a mulher que procurava por toda vida.
Aproximei-me e mesmo sem saber a convidei para dançar. Ela meio desconfiada recusou no primeiro momento. Apresentei-me e já fui contando toda a minha história e para minha surpresa ela também me contou a sua. Dançamos, ou melhor, ela dançou e fomos embora sem nos despedir devido um desencontro.
No dia seguinte fui à casa da Marina para saber o que ela sabia sobre aquela moça que eu havia me apaixonado. De repente, o telefone da Marina toca e para minha felicidade era a Rose.
Falei com ela ao telefone e dela recebi um convite para ir a Igreja, apesar de agnóstico, é lógico que aceitei. Assistimos ao culto e depois saímos. Conversamos um pouco mais e nos despedimos. Fui para o hotel mas não consegui dormir direito. Nos encontramos no dia seguinte e nos seguintes e começamos a namorar. Com quinze dias de namoro e preocupada com o meu estado financeiro, ela me convidou para morar em sua casa. Era uma casa branca com janelas e portas azuis. O tempo passou e com ele a consolidação daquela minha intuição primeira a seu respeito. Cinco anos se passaram e eu não estava enganado. Surpreendo-me a cada dia com ela. Não tenho dúvidas em afirmar que todos os adjetivos que exprimem solidariedade, companheirismo e amor à ela se aplicam. Não vislumbro minha vida sem sua companhia. Aquelas imagens que foram refletidas lá atrás, no espelho da minha vida quando da minha separação do primeiro casamento, são ainda muito presentes em minha memória como um alerta para que eu não cometa os mesmos erros hoje em dia.
A simplicidade da Rose contagia. Tenho certeza que com ela aprendo muito mais do que ensino, afinal, o que eu poderia ensinar a uma pessoa que é todo amor? Quando ouço as mesmas canções que meu pai ouvia, hoje entendo perfeitamente o seu sentido, o que eu não entendo, são algumas letras que falam de amores intensos e felizes e que terminam. Amor de verdade não acaba nunca. Nem a morte é capaz de apagar um amor intenso como esse que eu vivo, exceto a estupidez, esta sim, acaba com tudo, mas com certeza não serei estúpido ao ponto de perder a mulher da minha vida.
A cada nova manhã agradeço a Deus pela minha feliz escolha em vir para Bom Jesus, porque assim pude conhecer a mulher mais perfeita que já conheci e pela felicidade e alegria que sua companhia me proporciona. Seguramente minhas expectativas em relação ao amor terminam na Rose. Só peço a Deus sabedoria para conduzir essa relação e que eu nunca ouse magoar um amor tão belo e que para mim é perfeito.
Obrigado, Rozinéia Zanasdi por me mostrar as coisas belas do mundo e também por me mostrar o caminho a ser seguido. Te amo.
Bom Jesus do Norte, (ES), 26 de julho de 2011
Marcelo Adriano Nunes de Jesus