Nas últimas semanas assistiu-se a intensos e calorosos debates entre a mídia, a sociedade e a Igreja Católica em torno da polêmica que envolveu o aborto Legal de uma criança de nove anos de idade vítima de estupro cometido pelo padrasto e que repercutiu em vários jornais nacionais e estrangeiros, entre eles um dos mais importantes e respeitáveis jornais da Europa, o espanhol El País.
Polêmica à parte, é importante destacar que em momento algum dessa dialética falou-se da mãe da criança no sentido de trazer à tona o seu histórico de vida que certamente é muito parecido com o de milhares de crianças brasileiras.
Mães, que na maioria das vezes foram obrigadas a muito cedo largar suas bonecas e “casinhas” para assumirem funções que são de adultos. Mães que se marginalizaram. Mães que sofreram abusos. Mães que choraram a ausência de um pai ou de uma mãe.
Mães que gostariam de legar um futuro melhor para seus pupilos, mas por força das circunstâncias são obrigadas a negligenciá-lo em detrimento à própria sobrevivência. Mães, que se vêem obrigadas a deixar seus filhos aos cuidados de verdadeiros monstros, mas coitadas, muitas não sabem que o inimigo mora ao lado. Mães que choram....
O caso da menina estuprada em Pernambuco vem reforçar essa idéia, e embora muito já se tenha falado sobre o tema, nunca é demais trazer à luz do debate a possível razão desse problema e que certamente está ligado a falta de conhecimento o qual tem como origem uma educação deficitária de nossas crianças, jovens e adultos.
O Brasil não conhece o Brasil. Existem lugares em que a informação não chega, mesmo com a alta tecnologia disponível há lugares em que ela não chega, e nos lugares que chega, não quer dizer que seja acessível a todos. Não é. A informação chega aos lugares e às pessoas aonde a mesma possa auferir algum lucro, essa é a lógica de mercado.
Nesse contexto, o Nordeste brasileiro, sobretudo na região do agreste, é um dos que mais sofre com essa carência: desde a água, elemento indispensável à vida, às escolas, elemento indispensável a formação e informação; da comida, a condição de produzi-la. Falta-se de tudo.
Por outro lado, também existem pessoas que não estão interessadas em se informar, preferem manter-se na “Caverna de Platão” a buscar informações ou mesmo aproveitar-se das que chegam, basta dar uma olhada ao redor e constatar o enorme número de analfabetos funcionais e que estão nessa condição por opção, isso sem mencionar o fato de que muitos não gostam de ler e acham essa prática tediosa e cansativa, o que de certa forma é compreensível em se levando em conta a má qualidade do mercado editorial que publica desde Paulo Coelho a Regininha Poltergeist. Realmente, um primeiro contato com a literatura tendo como parâmetro esses dois autores não é de se estranhar que as pessoas se traumatizem.
Por fim, tudo o que acontece de negativo tende-se a culpar o Estado, o que em parte tem sim o seu quinhão de responsabilidade nesse quadro, mas creio que uma boa parte desses problemas são criados pelas próprias pessoas, que por uma ação de imprudência, negligência ou omissão, acabam ensejando dramas como esse da menina de Pernambuco e vários outros que estão acontecendo no exato instante em que escrevo e também agora, no exato instante em que você lê essa matéria.
É como dizia Gal Costa na música Divino e Maravilhoso...
Atenção, ao dobrar uma esquina
Uma alegria
Atenção menina
Você vem, quantos anos você tem
Atenção, precisa ter olhos firmes
Para esse sol, para essa escuridão
Atenção, tudo é perigoso, tudo é divino e maravilhoso
Atenção para o refrão....
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte.
Bom Jesus do Norte, 19 de março de 2009.
Marcelo Adriano Nunes de Jesus.