Durante o período histórico conhecido como Antiguidade eram comuns as pessoas se reunirem no Coliseu romano para assistirem aos espetáculos patrocinados pelo Estado.
Entretanto, muitos daqueles eventos que lá ocorriam, nada tinham de belo ou romântico, ao contrário, ali, os cidadãos iam para ver a “morte espetáculo”, o que causava um certo prazer e satisfação aos espectadores. A dor alheia era algo buscado por uma boa parte das pessoas que para lá se dirigiam, sentimento este que não chegou ao fim junto com a queda do Império no séc. V, ao contrário, atravessou o tempo e permanece até hoje entre nós.
Soa estranho, mas as tragédias dão sempre muito “ibope”, o que indica que uma parcela significativa da sociedade ânsia por notícias em relação ao tema, haja vista um número incontável de jornais que exploram justamente as mazelas alheias serem os periódicos mais vendidos em todo o Brasil. O que justifica tal interesse?
Um outro ponto não menos importante e talvez mais grave nessa análise, é que culturalmente no Brasil o suspeito de ter cometido um delito é, na maioria das vezes, considerado por essa mesma sociedade que se diz “lutar por Justiça”, como sendo “culpado”, ignorando-se assim, completamente a Constituição, os Tratados, as Convenções e a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A nossa Lei Maior preconiza que todos têm direito à ampla defesa e ao contraditório, fato que parece ser ignorado por uma boa parte dos meios de comunicações que acabam expondo na mídia não tão somente a vida dos suspeitos, mas à reboque, também de seus familiares, os quais na maioria das vezes, absolutamente nada têm a ver com o caso, mas que em função da falta de responsabilidade e critério na forma como as notícias são divulgadas, também são antecipadamente punidos. Crianças são ridicularizadas por coleguinhas nas escolas, adolescentes são excluídos das suas tribos, famílias são segregadas, enfim, instala-se o caos e a vergonha nessas famílias. Isso é democracia?
É certo que quem comete um ilícito deve responder por ele, independente de quem quer que seja, isso é fato, mas daí a exposição a público de pessoas que são meramente suspeitas e suas famílias vai uma grande diferença, o que me faz refletir acerca do sentido da democracia presente no pensamento de Espinoza.
Ainda hoje muito se tem falado a respeito da denúncia de improbidade administrativa que envolveu alguns magistrados do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, fato este que realmente merece ser apurado com todos os rigores da Lei e os envolvidos, se comprovado o dolo, punidos exemplarmente, sobretudo em se levando em conta que o Judiciário talvez seja uma das instituições dentre os Três Poderes que ainda goza da confiança por boa parte da população brasileira, pois raramente vemos seus membros envolvidos em episódios tão tristes quanto esses que o envolveram.
Mas também existe uma outra questão que não foi explorada pela mídia, talvez por não ser “vendável”. Alguém já parou para pensar se o que ocorreu no TJES foi uma retaliação a uma decisão daquele Egrégio Tribunal contrária a interesses outros e que talvez tenha desagradado a outros interesses? É possível.
Recentemente, vários juízes do Brasil assinaram um manifesto de apoio ao juiz federal Fausto de Sanctis, inclusive do Espírito Santo, por conta dos desdobramentos da Operação Satiaghara da Polícia Federal. Pode até ser uma idéia surreal, mas que ainda assim não pode ser completamente descartada, pelo menos numa perspectiva microfísica de Foucault.
Por fim, não estou aqui advogando nem favor nem contra nenhum dos envolvidos no caso, mesmo porque não sou técnico da área de Direito, mas não posso aceitar passivamente que parte da população forme sua opinião pautada apenas em juízos de valores criados por meios de comunicações, alguns sem critério ético, daí minha insatisfação. É importante refletir, analisar para não se incorrer no erro de se cometer injustiças. Erros são cometidos, afinal somos humanos e nessa condição muitos ainda haveremos de cometer, porém, é necessário que não permaneçamos no “Pão e Circo” como parecem querer alguns, o que se traduz na omissão na elaboração de um juízo crítico acerca das coisas. Talvez esse seja um dos piores erros humanos.
É imprenscindível seguir na busca da verdade que está nas entrelinhas dos discursos.
A luta continua.
Marcelo Adriano Nunes de Jesus.
Papai, muito me orgulha ler textos tão bem escritos, conceitos tão bem colocados...Sempre quando leio textos seus, fico pensando naquilo que foi escrito.E debato comigo mesma. Um grande homen, que posso chamar de MEU PAI! Te amo demais ♥
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