quinta-feira, 17 de junho de 2010

A VIDA QUE PASSA E QUASE NINGUÉM PERCEBE QUE EXISTE

Quando se pensa no básico para uma escola funcionar, a primeira coisa que nos vem à mente são os professores, afinal, sem eles a escola não existiria, o que até certo ponto é verdade. Até certo ponto.
Outros profissionais tão importantes quanto os professores, muitas vezes são esquecidos e mesmo negligenciados pela sociedade em geral, mas sem a presença deles o pleno funcionamento das escolas seria uma utopia.
Quando bate o sinal informando o momento da entrada a maioria das pessoas não se dão conta que muito antes da chegada dos professores e alunos à escola, lá estão eles, - o pessoal de apoio -, varrendo, arrumando as salas, limpando os quadros, fazendo a merenda e propiciando um ambiente agradável, asseado e seguro para todos aqueles que vão passar ali no mínimo quatro horas de seu dia.
E o que dizer da hora da merenda? Sem dúvidas a hora mais feliz do dia para os alunos. Comidinha feita com todo carinho e cuidado para que os alunos tenham uma alimentação saudável e saborosa. Mas não são os professores que fazem a comida.
Muitos alunos só terão aquela comidinha durante todo o dia, o que é lamentável e paradoxal num País que vive batendo recordes de produção de grãos e que tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo, isso sem mencionar a corrupção, um verdadeiro câncer em qualquer nação, principalmente naquelas em desenvolvimento.
Grau de instrução não é sinônimo de sensibilidade nem mesmo de cultura. As senhoras de pouca instrução em razão das circunstâncias da vida, mas que cuidam tão bem de nossas crianças – às vezes até melhor que seus próprios pais -, sabem perfeitamente que muitas daquelas crianças e adolescentes só terão aquele alimento no dia. Talvez por isso mesmo sejam tão cuidadosas na hora do preparo da comida e no trato com os alunos. Mas apesar de todo esse cuidado e zelo, são esquecidas e raramente lembradas por pais, professores e alunos.
Em sua maioria, nossas cozinheiras são senhoras idosas com mãos calejadas e sofrimento estampado em suas faces em razão dos descasos e indiferenças das pessoas tão presentes e ao mesmo tempo tão ausentes em suas vidas. Deveriam estar aposentadas e desfrutando um pouco a vida em companhia dos seus, mas não, lá estão elas para mais um dia duro de trabalho e sem perspectiva de reconhecimento, nem do Estado, muito menos daqueles que ali estão todos os dias.
Essa é a realidade por detrás dos muros escolares. A vida que passa e quase ninguém percebe.
Quando crianças, fomos educados a respeitar, a dividir, a ser honesto, a não brigar, enfim, a ser humano, demasiadamente humano. Mas, o que aconteceu no caminho entre a nossa vida infantil e a nossa vida adulta? O que nos levou a ser o que somos?

Marcelo Adriano Nunes de Jesus

A luta continua.

Junho/2010 – Outono.

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