É inegável o fato de que atualmente, e talvez sem precedentes na história, hoje exista uma grave crise mundial de paradigmas. Família, instituições públicas, religião e também, claro, o homem.
Com o advento da imprensa criado pelo alemão Gutemberg, era de se esperar um certo avanço na forma de como o homem fazia a sua leitura de mundo e como essas novas interpretações poderiam contribuir na melhoria da qualidade de vida do sujeito. Durante um tempo houve esse avanço, sendo a mais conhecida da época a Reforma Protestante (1550).
Depois dela, outras ocorreram, mas apenas para alguns e também apenas em poucos aspectos. Muitos homens e mulheres continuaram sós naquilo que acreditavam. Alguns morreram por pensar de forma diferente da maioria, conforme o caso do moleiro Menocchio*, morto na fogueira da Inquisição por não acreditar apenas nas verdades reveladas.
Livros que foram escritos há séculos se reafirmaram como a única explicação coerente e razoável para todas as inquietações humanas. Por que nada de novo surgiu desde então que elevasse o homem a patamares superiores aos da superstição e ignorância?.
O que há de errado em se criticar o estabelecido? Seria o medo, a ignorância ou ambos o grande responsável? Deus, caso realmente exista na forma como se imagina, não ficaria nada satisfeito com a limitação humana na busca de novos sentidos dada a enorme capacidade que Ele próprio nos deu para pensar e agir. Como alunos na grande escola da vida, certamente seríamos reprovados nessa e também em outras matérias.
Vejo que o grande problema criado a partir dessa dualidade - que é a capacidade humana de pensar e agir versus a inércia no caminho dessa busca - , foi ter como resultado o distanciamento entre o homem e ele próprio. As pessoas se projetam no outro. Percebo que elas querem qualquer coisa, menos serem elas mesmas. Estranho isso, não?! Mas basta dar uma olhada na grade de programação das TV’s e constatar que tudo o que o homem quer é ver ele projetado num personagem, - oportunidade disponibilizada nos programas oferecidos pelas emissoras -. Talvez por essa razão, as novelas serem exibidas no horário dito nobre para satisfazer a grande demanda, mas não se iludam, não é demanda de todos.
Nelson Rodrigues – teatrólogo brasileiro -, certa vez disse que toda unanimidade é burra, imagino a pressão que esse sujeito tenha sofrido por pensar diferente da maioria das pessoas do seu tempo. Mas é exatamente isso que acontece com alguns professores que tentam mostrar aos seus alunos que o mundo não é dessa forma como alguns querem fazer parecer crer. Que existem outros e mais significativos valores que devem ser perseguidos para que assim se construa uma sociedade mais crítica e a partir daí um mundo melhor e mais justo para todos. Mas quem se importa com isso? As pessoas querem é criticar maldosamente, sejam as críticas oriundas de professores, pais, alunos ou comunidade. O mais triste nessa história, é que essas pessoas correm o risco de num futuro bem próximo elas próprias serem vítimas de seus descasos e omissões, muitas das vezes resultado de seu próprio orgulho e ignorância em lidar com o “novo”, aí é claro vão apontar a escola como a grande vilã e responsável por suas tragédias pessoais, mas vão se esquecer que na verdade as consequências são resultado de suas escolhas.
Enquanto isso, as igrejas continuam lotadas por uma boa parcela dessas pessoas que estão se lixando para o seu semelhante mas que fazem questão de serem vistas pelo líder religioso como um bom cristão por estar todo domingo na igreja e contribuindo mensalmente com o dízimo; familiares que não se respeitam e se violentam, mas fazem questão de mostrar a todos que estão juntos – custe o que custar - ; servidores públicos que não cumprem fielmente a sua função, muitas das vezes ignorando o Estatuto do Servidor Público e prejudicando o bom andamento do serviço e a população em nome da estupidez corporativista e da mentalidade de que “eu ganho muito pouco para fazer isso ou aquilo”, e por fim o homem, que tem a oportunidade de mudar mas insiste em ficar apenas assistindo a tudo isso de camarote ou, confortavelmente no sofá de sua sala de estar diante da TV. Então, qual o seu modelo?
* Carlo Ginszburg. O Queijo e os Vermes. Ed. Companhia da Letras.
B.J.Norte, 28 de junho de 2009 – Inverno.
A luta continua.
Marcelo Adriano Nunes de Jesus
Olá Marcelo, li e adorei suas matérias, percebi tbm que vc tem o blog da criatividade e inspiração.
ResponderExcluiro Dono deste blog Francisco Lima te uma coluna no nosso site depois dá uma olhada lá e não esqueça de deixar um recado.
Parabéns por suas materias adorei.
Fernanda Rieger
Site: www.apollodigital.com.br
E isso meu caro. Continuas inspirado e escrevendo bem como poucos. um dia eu aprendo a escrever assim....ai, ninguém mais vai me segurar..rs.
ResponderExcluirBrincadeiras à parte, eu percebi um tom de desabafo em seu texto e concordo, pois as vezes é necessário esse extravasamento para combatermos um pouco da hipocriasia e ignorância reinantes em nossa sociedade. Continues assim...
Um grande abraço meu irmão....