segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A VIDA COMO ELA É

Numa época cercada de incertezas, Karl Marx e Fredrich Engels, dois dos maiores pensadores do século XIX, escreveram um livro que mais tarde seria considerado uma obra prima na literatura especializada para se entender o evolucionismo cultural: “Selvageria, Barbárie e Civilização”, publicada no Brasil pela editora Paz e Terra.
Ao refletir sobre as considerações de tais filósofos e outros que se seguiram, e para tentar entender os últimos acontecimentos envolvendo exatamente a selvageria e a barbárie praticada por cinco jovens, eu me questiono: o que pensar de um sistema que coloca na rua cinco marginais, sendo quatro deles menores de idade presos ou apreendidos em flagrante delito após agredirem com requinte de crueldade cidadãos que saiam do trabalho ou simplesmente estavam exercendo o seu direito constitucional de ir, vir e permanecer?
Que sistema é esse, que só pune em sua maioria negros e pobres e mantém nas ruas verdadeiros facínoras de classe média da sociedade paulistana, que no meu entendimento cometeram tentativa de homicídio, e que só não se consumou, devido a intervenção de seguranças de prédios próximos que presenciaram a selvageria? É isso que chamam de sociedade civilizada? Marginais soltos e pessoas do bem reféns do medo e da barbárie?
Que sistema é esse, que alimenta com leis falhas, como algumas partes do Estatuto da Criança e do Adolescente, que não faz a devida distinção entre adolescentes do bem e adolescentes do mal, colocando todos sob a mesma batuta, evitando, pois, que o Estado puna como deveria crimes excepcionais como esse?
Que sistema é esse, que fada a educação ao fracasso colocando verdadeiros tecnocratas à frente de Ministérios e Secretarias e que só fazem reproduzir o emburrecimento da sociedade além de só se preocuparem com a quantidade de alunos em salas de aula, mas que não prestam à mínima atenção à qualidade daqueles que ajudam na construção do saber além do que é construído naqueles espaços? Que sistema é esse, onde diretor de colégio é cargo de confiança e indicação política, quando deveria ser ocupado usando-se como critério a meritocracia e a competência na gestão, e não o inverso, onde muitos diretores sequer sabem redigir uma petição ou um memorando interno?
Que sistema é esse, onde a violência já se banalizou e a má qualidade do ensino e saúde pública segue na mesma direção do caos e ninguém faz nada para se reverter isso? E olha que de quatro em quatro anos se tem uma preciosa oportunidade de mudar, mas ao que parece, a maioria da sociedade está satisfeita com seus representantes. Definitivamente vivemos numa democracia às avessas, onde o povo em sua maioria não sabe o poder que tem e, por conseguinte não sabe como exercê-lo com sabedoria e serenidade.
Que sistema é esse, onde prevalece à mentira em detrimento a verdade?
Talvez a única instituição séria e comprometida que exista em nosso país seja o Ministério Público. Mas ele sozinho não é capaz de fazer explodir toda essa estrutura. Na verdade, ele é mais uma engrenagem maquiada pelo próprio sistema que não lhe oferece leis eficazes para fazer valer a vontade da sociedade. Quantos crimes hediondos foram denunciados e ficaram sem punição e caíram no esquecimento?
As reformas tão necessárias não saem do papel porque não há interesse delas saírem. Num país com uma das cargas tributárias mais altas do mundo e onde o resultado dessas arrecadações não voltam como deveriam para a sociedade, não é de se espantar tanta miséria, desigualdade social e ignorância.
Mas estamos melhorando. Hoje promovemos a justiça ao se evitar que jovens saudáveis, bem alimentados, bonitos e de boas famílias fossem colocados em abrigos para menores infratores. A Fundação Casa, Instituto Padre Severino e tantos outros espalhados pelo Brasil não são para esses cinco rapazes, que de “brincadeirinha”, acabaram se envolvendo numa “briguinha” à toa. Tais locais foram criados para se colocar os “outros”, os “desclassificados” da República, não cidadãos tão bem educados, como esses cinco jovens acusados injustamente de lesão corporal gravíssima.

A luta continua

Bom Jesus do Norte, (ES), 15 de novembro de 2010

Marcelo Adriano Nunes de Jesus

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