quinta-feira, 24 de março de 2011

AS SEMENTES DO MAL

Durante muito tempo prevaleceu no Brasil o estereótipo de que “os fatos falam por si” e por isso os envolvidos já são condenados pela sociedade. Ora, se fosse verdade que os “fatos falam por si”, não haveria necessidade de investigações nem tampouco a existência de advogados se faria necessária. Mas para alguns veículos de comunicação essa noção das coisas acaba por formar opiniões distorcidas ou mesmo mentirosa das notícias por eles divulgadas, sobretudo, pelos analfabetos funcionais.
Tomemos como exemplo a recente divulgação de um vídeo que mostra um menor de idade baleado “à queima roupa” no interior de uma favela do Amazonas por policiais militares.
É certo que os leitores não saibam, mas recentemente em uma escola pública o signatário deste foi ameaçado de morte por um menor de 10 anos de idade tão somente por tê-lo advertido face ao furto que este cometia no interior da mochila de um colega de classe. Absurdo? Não, a nossa realidade.
Talvez os leitores também não saibam, mas na maioria das escolas públicas o que mais se vê nas paredes são pichações com apologia a toda sorte de crime. São diversas siglas de facções criminosas espalhadas pelos corredores, banheiros e salas de aula; desenhos de fuzis, pistolas e xingamentos os mais variados.
Talvez os ilustres leitores igualmente desconheçam, mas em cada 10 crimes que acontecem no Brasil, sete têm a participação de menores de idade.
É... já deu para perceber que esses menores não são tão inocentes assim. Muitos deles poderiam “ministrar aulas” de direito penal, processual penal e conhecem de cabo a rabo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Sabem da fragilidade das nossas leis e se aproveitam disso para delinquir.
Seus pais e familiares nem sempre são omissos, mas a lei em vigor os impedem de ter atitudes mais extremas sob pena de prisão, o que os tornam refens de seus próprios filhos.
Definitivamente não dá para enviar flores para quem te recebe com balas de fuzil. Não se sabe exatamente o que teria levado aquele policial a cometer aquele ato extremo. Sim, é preciso apurar com rigor e isenção os fatos e punir os responsáveis.
Mas o policial, assim como o professor, trabalha sob um estresse que muita gente não tem noção, o que não justifica ações impulsivas como a mostrada no vídeo. O menor de idade que está no crime sabe perfeitamente que a lei não o alcançará, pois é inimputável.
Muitos policiais já devem ter se sentido impotentes e desanimados durante suas atividades, pois muitas vezes apreenderam “sementes do mal” em flagrante delito e estes sequer foram ouvidos pela autoridade policial. Não por culpa deste. É o sistema. Quantos não perderam horas e horas com a burocracia no interior de delegacias policiais enquanto o menor de idade saia debochando e pela porta da frente com escolta dos Conselhos Tutelares?
O que garante que aquele jovem do vídeo não teria atentado contra a vida daqueles policiais e quando sua munição teria acabado resolveu se entregar e numa lamentável explosão de estresse um dos policiais não teria disparado sua arma contra seu algoz? Quantos marginais não fazem isso? Trocam tiros e quando a munição acaba se entregam com medo de morrer? São covardes!
Que as pessoas entendam que não sou favorável à execução de quem quer que seja, mas apenas faço aqui uma análise imparcial dos fatos. Nada justifica tirar a vida de ninguém, exceto situações que a lei permite guardadas as devidas proporções, mas penso que chegou a hora de parar de se romantizar as coisas envolvendo menores de idade.
Enquanto aqueles parasitas lá do Congresso Nacional não reverem com responsabilidade nossos diplomas legais, “tiragem”, delegados, promotores e juízes muito pouco poderão fazer no combate eficaz à criminalidade. Não basta prender e condenar, é preciso leis que os façam cumprir integralmente suas penas. Nada de redução, como a recente aprovada pelo Congresso, que para cada 12 horas de estudo do preso diminui um dia na sua pena. Isso, sim, é uma sacanagem das grandes com o povo brasileiro que sustenta essa corja.

A luta continua.

Marcelo Adriano Nunes de Jesus
BJN, (ES), 24 de março de 2011

quinta-feira, 17 de março de 2011

A ANTÍTESE DA SEGURANÇA

Se por acaso alguém o parasse na rua para lhe perguntar qual a área de pesquisa que mais recebe investimentos do setor público, qual seria a sua resposta? Medicina? Errou. O segmento que mais recebe investimentos é o da segurança. Não em relação aos profissionais que atuam no setor, mas sim, em tecnologias.
A Sociologia moderna afirma que não existe sociedade, mas sim sociedades. São vários grupos dentro de um mesmo contexto político e econômico, mas com diferenças significativas no social, o que gera diferentes atuações do Estado, ainda que este negue tal prática. Mas não somos imbecis. Com exceção do juiz “Lalau”, quantos outros juízes você ouviu falar que foram parar na cadeia em razão de seus crimes? E olha que tem um rol enorme de juízes envolvidos em ilícitos os mais diversos. Então não me venham dizer que somos todos iguais perante a lei que não somos mesmo!
A ideia de poder, – ainda que estereotipada -, é algo que fascina e seduz o que acaba atraindo um contingente enorme para as forças policiais.
Mas há também pessoas que vão pela vocação e com a esperança de um dia serem dignamente remuneradas, mas infelizmente vão morrer sem que isso aconteça.
O Brasil é um país com dimensões continentais e por isso mesmo reúne um enorme mosaico cultural. As exigências de escolaridade para desempenhar as mesmas funções variam de região para região e, por conseguinte, de estado para estado, salvo as carreiras técnicas, como engenheiros, professores, médicos e outros que exigem curso superior, exigência que não se aplica aos policiais militares e civis, onde na maioria dos estados basta o ensino médio completo para o desempenho da função policial. Nota: O Distrito Federal é uma exceção. Lá, exige-se nível superior para todas às polícias.
Em países ditos desenvolvidos, não há grandes diferenças salariais entre as profissões. Na Dinamarca, por exemplo, é mínima a diferença entre o que recebe um garçom e um policial; um médico e uma faxineira; um professor e um taxista, quadro que se repete na maioria dos países europeus.
Mas aqui, essa diferença é absurda. No Brasil, um policial militar – independente do estado – ganha mais que qualquer professor da educação básica, independente da unidade da federação, o que não significa dizer que ele seja bem remunerado, ao contrário. Detalhe: para se tornar um soldado policial militar no estado do Rio de Janeiro basta o ensino médio, já um professor com licenciatura plena é preciso curso superior.
O sistema é perverso. Os discursos acompanham a lógica de Estado. Quanto mais se investir em segurança, mais se afasta o risco de uma revolta popular ou coisa parecida. Quanto menos se investir em educação, mais se perpetuará o quadro de ignorância e de multiplicação dos analfabetos funcionais, tudo o que o Estado precisa para evitar situações embaraçosas.
Mas a verdade é que essa segurança que nos é “vendida” é só aparente. O Rio de Janeiro está repleto de viaturas novinhas em folha, mas o salário dos policiais continua minguado. Atualmente nas salas de aula do estado existe um computador conectado diretamente na Secretaria de Educação, a chamada “Conexão Online”. Entre uma aula e outra o professor tem exatos três minutos para sair de uma sala e entrar em outra, sequer tem tempo para ir ao banheiro, mas seu salário...
Sim, vivemos no Panoptismo de Bentham. Colocaram a sociedade numa redoma vigiada. Todos são suspeitos até prova em contrário. É preciso vigiar e punir, esse é o discurso.
A educação faliu e definitivamente tornou-se uma utopia. Mas não vamos desistir. É fato que diariamente um sem número de professores pede exoneração do quadro permanente do magistério, mas também existem aqueles que ficam e acreditam em sonhos. Sabem que não terão vida para assistir às mudanças tão necessárias em nossa sociedade. Porém, o mais importante é que não se calaram não se omitiram e não foram subservientes. Se fosse apenas por isso, já teria valido à pena não ter abandonado aquelas crianças e adolescentes que caminham junto conosco acreditando em um dia viver num país menos hipócrita e verdadeiramente mais justo, mas há muito mais coisa que faz valer à pena e que somente quem é professor de verdade conhece.

A luta continua
Marcelo Adriano Nunes de Jesus
17 de março de 2010

quarta-feira, 16 de março de 2011

MENTIRAS DISFARÇADAS DE VERDADES

Talvez um dos piores inimigos da humanidade seja o medo do desconhecido. Esse temor em relação ao Nada, faz com que muitas pessoas cometam atos tresloucados e patéticos em razão dessa ignorância.
O homem inventou Deus e Este o homem e a religião. Em sociedades tão marcadas pelo pragmatismo religioso e pelo preconceito, essa afirmação talvez reverbere de forma adversa da qual se pretenda. Mas a vida é assim mesmo. Indivíduos se apropriam de um excerto de algo que se escreve ou se fala e criam suas próprias convicções; suas próprias “verdades”; seus “recortes do real”. A crítica com objetividade no stricto sensu não é uma prática muito comum em nosso meio.
Ao assistir a filmes épicos que retratam a vida de Cristo, sempre me questiono: onde as religiões que propagam a fé cristã se divorciaram da arqueologia dos saberes de Jesus? Segundo as narrativas, Jesus era uma pessoa extremamente simples. Sua filosofia era tão somente a prática do amor, da caridade e da humildade.
Mas o homem, ah, o homem... Apropriou-se de “recortes” daquilo que julgou conveniente apropriar-se e logo tratou de fundar uma seita. Sim, na época em que foi criada a Igreja era uma seita, e não uma religião. Somente séculos mais tarde, quando o número de adeptos foi aumentando, é que de fato ela se tornou uma religião.
Traçando uma breve história da Igreja, pude perceber que ela sempre ocupou um lugar de destaque nas sociedades em que se instalou.
Na Idade Média (476-1453) estava no topo da pirâmide social e norteava todo o comportamento das pessoas através do misticismo e do medo utilizando-se da Inquisição. Para alguns historiadores, esse momento é considerado um período de “trevas”, principalmente pelos renascentistas, que viam nessa época um retrocesso da humanidade sob todos os seus aspectos, principalmente naquilo que diz respeito à cultura e ao desenvolvimento intelectual do homem se comparado ao período anterior, a Antiguidade Clássica.
Na Idade Moderna (1453-1789) a Igreja igualmente assumiu uma postura radical em relação àqueles que discordavam de seus dogmas ou apenas tivessem uma opinião diferente daquela oficial. Mas nessa época a Reforma Protestante já havia acontecido. Na verdade era inevitável. Inconformada com a perda de fiéis para o protestantismo e sete anos após a Contrarreforma, a resposta da Igreja Católica não tardou e radicalizou ainda mais seus métodos.
Na noite de 24 de agosto de 1572, centenas de milhares de protestantes foram mortos por católicos no interior de uma igreja e arredores. Esse triste episódio ficou conhecido como “A Noite de São Bartolomeu”. Mas não foi só isso. A própria colonização da América do Norte é resultado das lutas de religiões que estavam ocorrendo em toda a Europa, principalmente na França e Inglaterra, países lavados de sangue por essa guerra estúpida e irracional.
Não podemos também esquecer que havia o Tribunal do Santo Ofício, órgão criado pela Igreja Católica para julgar as pessoas acusadas de bruxaria as quais em sua maioria eram consideradas culpadas e covardemente imoladas.
A Idade Contemporânea (1789 aos dias atuais) também foi uma época recheada de contradições para aquela que se julgava herdeira do Império Romano do Ocidente, mas que guardou a sete chaves a literatura filosófica.
Giuseppi Giovanni Pacelli, também conhecido como o Papa Pio XII, em troca de um punhado de dinheiro fez vista grossa às inúmeras atrocidades cometidas pelo fascista Benito Mussolli.
Essas mesmas mãos que “abençoavam” os cristãos apertavam as mãos de homens como Mussolini e Hitler.
Se a Igreja Católica não tivesse sido tão omissa em razão do seu medo no triunfo do socialismo soviético, talvez milhões de vidas tivessem sido poupadas nos campos de concentração espalhados por quase toda a Europa.
Atualmente entristeço-me ao ligar a tv e assistir a anúncios de igrejas católicas e evangélicas que vendem de tudo. Desde a folhinha dos dias do ano, a chaveirinhos, toalhas, copos, cd’s, livros, fim de semana não sei aonde, viagens à Terra Santa e por aí vai.
Templos que mais se assemelham aos palácios dado às suas ostentações de luxo e riquezas afastam os mais simples, que muitas vezes por vergonha por não terem roupas que consideram adequadas, deixam de frequentá-las, o que sinceramente não acho que estejam perdendo grande coisa.
Nesse contexto, fica uma pergunta bem simples: onde foram parar as práticas dos ensinamentos de Jesus? O ser humano continua o mesmo, senão pior.
Mesmo na Idade Média, quando eram comuns os problemas de abastecimento, os senhores feudais abriam seus silos de grãos e distribuíam aos pobres. Hoje, nas grandes cidades, pessoas recolhem restos de comida nas lixeiras e as pessoas passam ao lado indiferentes. É essa a prática que chamam de fraternidade? É isso que é ser irmão?
São médicos que só atendem por dinheiro, defensores que igualmente só visam quanto irão ganhar na próxima ação, professores que fingem que ensinam porque acham que não ganham o suficiente para ensinar, policiais que prevaricam quando “rola” uma graninha, padres, pastores, rabinos e outros que vivem para pedir dinheiro aos fiéis para mais uma “obrinha”, mas a Igreja, enquanto instituição, muito pouco ou nada faz para minorar o pior dos dramas humanos: a fome. Essas mesmas pessoas todos os domingos e dias ditos santos estão lá, lotando as naves das igrejas para verem e serem vistas, talvez seus únicos objetivos: serem considerados pelo “outro” bons cristãos e bons cidadãos.
Por último, penso que já passou da hora das pessoas questionarem suas instituições. Não apenas as políticas, mas principalmente as religiosas. Talvez seu dinheiro fosse mais bem empregado se fossem compradas mensalmente cestas básicas e anonimamente distribuídas aos necessitados; talvez seu tempo fosse mais bem aproveitado se dedicado ao trabalho voluntário, tem tanta gente precisando que você não faz ideia. Talvez assim, quem sabe, você se aproxime mais de sua fé, afinal, nada como ousar e duvidar do óbvio.

A luta continua.

Marcelo Adriano Nunes de Jesus