quarta-feira, 16 de março de 2011

MENTIRAS DISFARÇADAS DE VERDADES

Talvez um dos piores inimigos da humanidade seja o medo do desconhecido. Esse temor em relação ao Nada, faz com que muitas pessoas cometam atos tresloucados e patéticos em razão dessa ignorância.
O homem inventou Deus e Este o homem e a religião. Em sociedades tão marcadas pelo pragmatismo religioso e pelo preconceito, essa afirmação talvez reverbere de forma adversa da qual se pretenda. Mas a vida é assim mesmo. Indivíduos se apropriam de um excerto de algo que se escreve ou se fala e criam suas próprias convicções; suas próprias “verdades”; seus “recortes do real”. A crítica com objetividade no stricto sensu não é uma prática muito comum em nosso meio.
Ao assistir a filmes épicos que retratam a vida de Cristo, sempre me questiono: onde as religiões que propagam a fé cristã se divorciaram da arqueologia dos saberes de Jesus? Segundo as narrativas, Jesus era uma pessoa extremamente simples. Sua filosofia era tão somente a prática do amor, da caridade e da humildade.
Mas o homem, ah, o homem... Apropriou-se de “recortes” daquilo que julgou conveniente apropriar-se e logo tratou de fundar uma seita. Sim, na época em que foi criada a Igreja era uma seita, e não uma religião. Somente séculos mais tarde, quando o número de adeptos foi aumentando, é que de fato ela se tornou uma religião.
Traçando uma breve história da Igreja, pude perceber que ela sempre ocupou um lugar de destaque nas sociedades em que se instalou.
Na Idade Média (476-1453) estava no topo da pirâmide social e norteava todo o comportamento das pessoas através do misticismo e do medo utilizando-se da Inquisição. Para alguns historiadores, esse momento é considerado um período de “trevas”, principalmente pelos renascentistas, que viam nessa época um retrocesso da humanidade sob todos os seus aspectos, principalmente naquilo que diz respeito à cultura e ao desenvolvimento intelectual do homem se comparado ao período anterior, a Antiguidade Clássica.
Na Idade Moderna (1453-1789) a Igreja igualmente assumiu uma postura radical em relação àqueles que discordavam de seus dogmas ou apenas tivessem uma opinião diferente daquela oficial. Mas nessa época a Reforma Protestante já havia acontecido. Na verdade era inevitável. Inconformada com a perda de fiéis para o protestantismo e sete anos após a Contrarreforma, a resposta da Igreja Católica não tardou e radicalizou ainda mais seus métodos.
Na noite de 24 de agosto de 1572, centenas de milhares de protestantes foram mortos por católicos no interior de uma igreja e arredores. Esse triste episódio ficou conhecido como “A Noite de São Bartolomeu”. Mas não foi só isso. A própria colonização da América do Norte é resultado das lutas de religiões que estavam ocorrendo em toda a Europa, principalmente na França e Inglaterra, países lavados de sangue por essa guerra estúpida e irracional.
Não podemos também esquecer que havia o Tribunal do Santo Ofício, órgão criado pela Igreja Católica para julgar as pessoas acusadas de bruxaria as quais em sua maioria eram consideradas culpadas e covardemente imoladas.
A Idade Contemporânea (1789 aos dias atuais) também foi uma época recheada de contradições para aquela que se julgava herdeira do Império Romano do Ocidente, mas que guardou a sete chaves a literatura filosófica.
Giuseppi Giovanni Pacelli, também conhecido como o Papa Pio XII, em troca de um punhado de dinheiro fez vista grossa às inúmeras atrocidades cometidas pelo fascista Benito Mussolli.
Essas mesmas mãos que “abençoavam” os cristãos apertavam as mãos de homens como Mussolini e Hitler.
Se a Igreja Católica não tivesse sido tão omissa em razão do seu medo no triunfo do socialismo soviético, talvez milhões de vidas tivessem sido poupadas nos campos de concentração espalhados por quase toda a Europa.
Atualmente entristeço-me ao ligar a tv e assistir a anúncios de igrejas católicas e evangélicas que vendem de tudo. Desde a folhinha dos dias do ano, a chaveirinhos, toalhas, copos, cd’s, livros, fim de semana não sei aonde, viagens à Terra Santa e por aí vai.
Templos que mais se assemelham aos palácios dado às suas ostentações de luxo e riquezas afastam os mais simples, que muitas vezes por vergonha por não terem roupas que consideram adequadas, deixam de frequentá-las, o que sinceramente não acho que estejam perdendo grande coisa.
Nesse contexto, fica uma pergunta bem simples: onde foram parar as práticas dos ensinamentos de Jesus? O ser humano continua o mesmo, senão pior.
Mesmo na Idade Média, quando eram comuns os problemas de abastecimento, os senhores feudais abriam seus silos de grãos e distribuíam aos pobres. Hoje, nas grandes cidades, pessoas recolhem restos de comida nas lixeiras e as pessoas passam ao lado indiferentes. É essa a prática que chamam de fraternidade? É isso que é ser irmão?
São médicos que só atendem por dinheiro, defensores que igualmente só visam quanto irão ganhar na próxima ação, professores que fingem que ensinam porque acham que não ganham o suficiente para ensinar, policiais que prevaricam quando “rola” uma graninha, padres, pastores, rabinos e outros que vivem para pedir dinheiro aos fiéis para mais uma “obrinha”, mas a Igreja, enquanto instituição, muito pouco ou nada faz para minorar o pior dos dramas humanos: a fome. Essas mesmas pessoas todos os domingos e dias ditos santos estão lá, lotando as naves das igrejas para verem e serem vistas, talvez seus únicos objetivos: serem considerados pelo “outro” bons cristãos e bons cidadãos.
Por último, penso que já passou da hora das pessoas questionarem suas instituições. Não apenas as políticas, mas principalmente as religiosas. Talvez seu dinheiro fosse mais bem empregado se fossem compradas mensalmente cestas básicas e anonimamente distribuídas aos necessitados; talvez seu tempo fosse mais bem aproveitado se dedicado ao trabalho voluntário, tem tanta gente precisando que você não faz ideia. Talvez assim, quem sabe, você se aproxime mais de sua fé, afinal, nada como ousar e duvidar do óbvio.

A luta continua.

Marcelo Adriano Nunes de Jesus

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