quinta-feira, 17 de março de 2011

A ANTÍTESE DA SEGURANÇA

Se por acaso alguém o parasse na rua para lhe perguntar qual a área de pesquisa que mais recebe investimentos do setor público, qual seria a sua resposta? Medicina? Errou. O segmento que mais recebe investimentos é o da segurança. Não em relação aos profissionais que atuam no setor, mas sim, em tecnologias.
A Sociologia moderna afirma que não existe sociedade, mas sim sociedades. São vários grupos dentro de um mesmo contexto político e econômico, mas com diferenças significativas no social, o que gera diferentes atuações do Estado, ainda que este negue tal prática. Mas não somos imbecis. Com exceção do juiz “Lalau”, quantos outros juízes você ouviu falar que foram parar na cadeia em razão de seus crimes? E olha que tem um rol enorme de juízes envolvidos em ilícitos os mais diversos. Então não me venham dizer que somos todos iguais perante a lei que não somos mesmo!
A ideia de poder, – ainda que estereotipada -, é algo que fascina e seduz o que acaba atraindo um contingente enorme para as forças policiais.
Mas há também pessoas que vão pela vocação e com a esperança de um dia serem dignamente remuneradas, mas infelizmente vão morrer sem que isso aconteça.
O Brasil é um país com dimensões continentais e por isso mesmo reúne um enorme mosaico cultural. As exigências de escolaridade para desempenhar as mesmas funções variam de região para região e, por conseguinte, de estado para estado, salvo as carreiras técnicas, como engenheiros, professores, médicos e outros que exigem curso superior, exigência que não se aplica aos policiais militares e civis, onde na maioria dos estados basta o ensino médio completo para o desempenho da função policial. Nota: O Distrito Federal é uma exceção. Lá, exige-se nível superior para todas às polícias.
Em países ditos desenvolvidos, não há grandes diferenças salariais entre as profissões. Na Dinamarca, por exemplo, é mínima a diferença entre o que recebe um garçom e um policial; um médico e uma faxineira; um professor e um taxista, quadro que se repete na maioria dos países europeus.
Mas aqui, essa diferença é absurda. No Brasil, um policial militar – independente do estado – ganha mais que qualquer professor da educação básica, independente da unidade da federação, o que não significa dizer que ele seja bem remunerado, ao contrário. Detalhe: para se tornar um soldado policial militar no estado do Rio de Janeiro basta o ensino médio, já um professor com licenciatura plena é preciso curso superior.
O sistema é perverso. Os discursos acompanham a lógica de Estado. Quanto mais se investir em segurança, mais se afasta o risco de uma revolta popular ou coisa parecida. Quanto menos se investir em educação, mais se perpetuará o quadro de ignorância e de multiplicação dos analfabetos funcionais, tudo o que o Estado precisa para evitar situações embaraçosas.
Mas a verdade é que essa segurança que nos é “vendida” é só aparente. O Rio de Janeiro está repleto de viaturas novinhas em folha, mas o salário dos policiais continua minguado. Atualmente nas salas de aula do estado existe um computador conectado diretamente na Secretaria de Educação, a chamada “Conexão Online”. Entre uma aula e outra o professor tem exatos três minutos para sair de uma sala e entrar em outra, sequer tem tempo para ir ao banheiro, mas seu salário...
Sim, vivemos no Panoptismo de Bentham. Colocaram a sociedade numa redoma vigiada. Todos são suspeitos até prova em contrário. É preciso vigiar e punir, esse é o discurso.
A educação faliu e definitivamente tornou-se uma utopia. Mas não vamos desistir. É fato que diariamente um sem número de professores pede exoneração do quadro permanente do magistério, mas também existem aqueles que ficam e acreditam em sonhos. Sabem que não terão vida para assistir às mudanças tão necessárias em nossa sociedade. Porém, o mais importante é que não se calaram não se omitiram e não foram subservientes. Se fosse apenas por isso, já teria valido à pena não ter abandonado aquelas crianças e adolescentes que caminham junto conosco acreditando em um dia viver num país menos hipócrita e verdadeiramente mais justo, mas há muito mais coisa que faz valer à pena e que somente quem é professor de verdade conhece.

A luta continua
Marcelo Adriano Nunes de Jesus
17 de março de 2010

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