sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

DESCULPAS

Seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo, o poder se organiza sempre verticalmente. São sempre os “mais capazes” os eleitos nem sempre de forma limpa e de competência duvidosa, os responsáveis pela elaboração das leis que nos são impostas goela abaixo e que ao menos em tese, deveriam ser cumpridas por todos.
Aqui, os crimes que possuem maior pena são aqueles praticados contra o patrimônio e também o sequestro. Seria mera coincidência? Você conhece algum pobre que tenha sido sequestrado?
Se a elite é o alvo de ataques, essa mesma elite irá criar mecanismos para se proteger. Se esses mecanismos alcançarem também os pobres, ótimo, senão ótimo também. Para ela, esse detalhe não faz a menor diferença.
O lema da Revolução Francesa (1789) Liberdade, Igualdade e Fraternidade não objetivava contemplar a todos, basta um olhar atento aos desdobramentos desse movimento burguês para se constatar que essa ideologia ficou restrita à classe que deu origem ao movimento, a maior interessada no fim do Ancién Régime. Mudou-se o discurso, mas a maneira perversa de tratar uns mais iguais que outros permanece em nossos dias.
Pimenta da Veiga, réu confesso no crime de homicídio qualificado contra a jornalista Sandra Gomide, ficou onze anos fora da prisão. Graças à sua condição material, lhe foi possível contratar os melhores criminalistas do Brasil para defendê-lo.
José Sarney ex-presidente do Brasil e atual presidente do Senado envolvido em diversos escândalos, nunca foi condenado por nenhuma picaretagem cometida contra o povo brasileiro. Seu pupilo, José Sarney Filho, parte em uma investigação criminal em que é acusado pela Polícia Federal em diversos crimes, conseguiu na Justiça o direito de não ter informações dos desdobramentos da investigação noticiadas pelos jornais. Direito?!
Como se vê, são várias as situações que confirmam minha impressão dessa sociedade podre e hipócrita em que vivemos e que beneficia uns e pune outros.
Mas o que me levou a escrever nesta tarde de sexta-feira foi uma situação vivida a qual me senti impotente diante dela. Minha mulher, que é cabeleireira, estava fazendo as madeixas de uma cliente aqui em casa. Essa senhora, mãe de quatro filhos menores de idade, os trouxe até nossa casa, pois não havia com quem deixar as crianças, o que até aí nenhum problema.
Liguei a TV e coloquei em um desses canais de desenho e fiquei junto às crianças observando-as. Notei que em cada chamada comercial seus pequenos olhos brilhavam. A cada intervalo a emissora anunciava um brinquedo diferente: era caminhãzinho elétrico em que a própria criança o dirigia, era boneca que vinha acompanhada de “instrumentos médicos” e que apresentava “batimentos cardíacos”, “febre” e outras coisas mais. Tênis iluminados e adesivados com super-herois, enfim, tudo que fascina uma criança. Assisti aqueles comerciais e fiquei muito triste. Primeiro, me arrependi de ter ligado a televisão naquele canal. Segundo, pela parca condição material de seus pais, aqueles brinquedos ficarão apenas nas memórias daquelas crianças, o que me fez sentir culpado por ter ligado a TV.
Não pude deixar de fazer uma reflexão sobre aquele momento e me questionei: qual a diferença de um empresário que veicula um comercial dessa natureza e aquele cara que assalta um motorista em carro importado em um sinal de trânsito?
É uma violência velada contra as crianças e também contra seus pais.. Por que não se criam instrumentos para evitar tais constrangimentos? Quem pode, vai à loja e compra. Mas e quem não pode? Resta apenas a frustração e a dor.
Está na hora de repensarmos nossas leis, e mais, sobre quem as elabora. Hoje, não mais acredito que o culpado por nossos representantes no Congresso e também no Executivo seja o povo. Ele é vítima de um sistema perverso e que o põem como responsável por tudo isso. Basta olhar nossa educação. A escola reproduz a ideologia do Estado. Reproduz-se cada vez mais “imbecis especializados”, porém acríticos.
Termino com minhas sinceras desculpas aos milhões de crianças vitimadas por esse sistema podre o qual pouca gente tem coragem de denunciar e lutar para que algo seja feito no sentido de se por um fim a esse perverso modelo.

Marcelo Adriano Nunes de Jesus

A luta continua.

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