quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Movimento de Solidariedade às Vítimas de Santa Catarina Promovido pelo Fórum de Bom Jesus do Norte, ES.


Corredor do Fórum de Bom Jesus do Norte              Voluntárias felizes trabalhando na separação
                                                                                           de roupas

 
Corredor do Fórum e Sala de Audiências.

























corredor do Fórum e sala de audiências.




Abaixo,de terno, doutor Mário recendo o caminhão com as doações em Vitória.















Em novembro de 2008, os brasileiros foram surpreendidos com as enchentes e a fúria da Natureza que se abateram de forma implacável sobre o estado de Santa Catarina. Centenas de mortos, milhares de desalojados e um saldo de destruição nunca antes visto na história daquele Estado. Entretanto, o brasileiro faz parte de uma nação que vai muito além dos seus problemas pessoais. Homens, mulheres e crianças, de Norte a Sul desse país, com dimensões continentais, se mobilizaram em prol das vítimas. Toneladas de alimentos, roupas e medicamentos não paravam de chegar à Santa Catarina oriundos de todos os cantos desse Brasil, inclusive da nossa pequenina Bom Jesus do Norte, cidadezinha, situada ao sul do estado do Espírito Santo com uma população de aproximadamente 8.000 pessoas, e que em apenas dois dias de campanha conseguiu arrecadar quase duas toneladas de alimentos e cerca de 5.000 peças diversas entre roupas, brinquedos, colchão, berço, etc.

A essa altura do texto, muitos talvez estejam se perguntando: mas de quem partiu a iniciativa de um trabalho tão nobre? A resposta, caros amigos, é tão surpreendente quanto a sua origem. Decerto, que muitas pessoas tivessem tido a mesma idéia, porém, o primeiro passo foi dado por um jovem juiz de direito da nossa comarca, doutor Mário da Silva Nunes Neto, que numa conversa entre mim, ele e outras pessoas, sugeriu-nos que alguma coisa haveria de ser feita naquele sentido. O ilustre magistrado, com um espírito público e de solidariedade ímpares, além de disponibilizar o fórum para que o mesmo servisse de depósito às doações, colocando um funcionário a disposição para que recebesse os donativos mesmo fora do expediente, como foi no sábado e domingo, trouxe em seu carro vários donativos para a campanha, a qual, diga-se de passagem, não contou na ocasião com qualquer apoio da Prefeitura, mesmo porque, optamos em não procurá-la, pois não havia tempo para isso, as vítimas de Santa Catarina tinham urgência. Foi um trabalho organizado e conduzido pelo Judiciário local e pela sociedade civil. Não podemos deixar de mencionar também, os serventuários Rodney, Roulien, "Fatinha" dentre outros, que prestaram um excelente serviço voluntário, muitas das vezes sacrificando seu lazer e deixando suas famílias em casa para receberem as doações naquela repartição, isso com uma amabilidade e uma satisfação enormes ao ver que aos poucos o fórum estava ficando lotado, graças a solidariedade das pessoas, muitas sem condições em doar, mas que optaram em não ficar de fora desse movimento o qual poucas vezes tive a oportunidade de de participar e presenciar.


Retomando ao ilustre juiz, muito me surpreendeu ao vê-lo retirar-se para trocar o terno e por uma bermuda e camiseta para logo a seguir colocar as "mãos na massa", separando alimentos, fazendo inventários das coisas, as quais não paravam de chegar , arrastando caixas pesadas, isso, junto com vários voluntários, entre eles pessoas do povo e servidores que lá estavam dando a sua contribuição e o tempo todo com sorrisos estampados no rosto. A sala de audiências não tinha espaço nem para um quilo de feijão a mais; ocupamos todos os espaços possíveis com doações. Enfim, o nosso jovem paladino fez juz ao carinhoso e respeitoso apelido que a população lhe conferiu, o de "Juiz do Povo". Esse é o doutor Mário, que depois disso tudo, ainda locou um caminhão pagando do próprio bolso o frete para que o mesmo levasse os donativos para Vitória , pois era lá que estava a centralizadora do Estado para receber as doações advindas de vários municípios direcionadas à Santa Catarina. Mas não pensem que seu trabalho parou aí. Ele própio dirigiu-se à Vitória para receber pessoalmente e fiscalizar se de fato não haveriam "problemas", pelo caminho, prestando assim, mais um relevante serviço social. Parabéns, doutor Mário, foi muito gratificante não só para mim, mas para todas as pessoas empenhadas na campanha e que o conheceram, constatar que o senhor está muito além de proferir meras sentenças, não que elas não sejam importantes, são imprescindíveis num Estado de Direito, mas refiro-me a sua grandeza enquanto ser humano, certamente o senhor tem passagem garantida sem escalas para o Céu, o que esperamos que demore mais uns cem anos para a Grande Partida. Muito obrigado! A luta continua!

-------------------------------------------------------------------------------------------------
RELATÓRIO PRELIMINAR DAS ARRECADAÇÕES OCORRIDAS EM BOM JESUS DO NORTE (ES) POR OCASIÃO DA CAMPANHA DA "SOLIDARIEDADE E PELA VIDA" PARA AJUDAR AS VÍTIMAS DAS ENCHENTES OCORRIDAS EM SANTA CATARINA.



276 KGS AÇÚCAR.
276 KGS DE ARROZ
229 KGS DE MACARRÃO.
161 KGS DE FEIJÃO
144,5 LITROS DE ÓLEO.
124 KGS DE FUBÁ.
97 LITROS D’ÁGUA.
78 KGS DE SAL
59 KGS DE FARINHA DE MESA.
34 UNIDADES DE MACARRÃO INSTANTÂNEO. (200 GRS CADA)
37 KGS DE FARINHA DE TRIGO.
20,5 KGS DE CAFÉ.
107 PACOTES DE BISCOITO.
21 LITROS DE LEITE EM CAIXINHA
05 LATAS DE LEITE EM PÓ.
16 LATAS DE SARDINHA.
06 LATAS DE SALSICHA.
05 LATAS DE ACHOCOLATADO.
04 LATAS DE EXTRATO DE TOMATE.
03 CAIXAS DE AVEIA QUAKER.
03 UNIDADES DE TODDYNHO.
03 LATAS DE MILHO.
02 LATAS DE ERVILHA.
02 LITROS DE REFRIGERANTE FANTA LARANJA.
01 EMBALAGEM DE CREMOGEMA.

TOTAL: 1.692 QUILOS



4.492 PEÇAS DE ROUPAS. (INCLUINDO SAPATOS).


260 ARTIGOS DE LIMPEZA E HIGIENE PESSOAL.

84 ROLOS DE PAPEL HIGIÊNICO.
41 SABONETES.
25 CAIXAS DE FÓSFOROS.
18 BARRAS DE SABÃO.
07 UNIDADES DE DETERGENTE.
04 ABSORVENTES
03 PACOTES DE FRALDA.
02 KGS DE SABÃO EM PÓ.
01 PACOTE DE ESPONJA DE AÇO BOMBRIL
01 ESPONJA.
01 PINHO RIO (DESINFETANTE)
01 ÁGUA SANITÁRIA.
01 AMACIENTE DE ROUPAS CONFORT.
06 BRINQUEDOS VARIADOS
01 CARRINHO DE BEBÊ
04 COLCHONETES


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


INCIDENTE EM BOM JESUS DO NORTE, ES.

Nossa narrativa começa tendo como pano de fundo a Bahia de Todos os Santos e sua breve história recente, assim como a cidade de Antares, “localizada” ao sul do país, onde a primeira, durante muito tempo, seguiu as ordens e a vontade do senhor Antônio Carlos Magalhães, homem poderoso e influente, que por décadas, comandou com mãos de ferro toda a política baiana, sempre pautada na lógica do mandonismo e do coronelismo, conforme várias fontes documentadas no Tribunal de Justiça da Bahia, no Conselho de Ética e Disciplina da Câmara dos Deputados e Senadores, etc, etc, etc, etc....
E a segunda, obra de ficção de Érico Veríssimo, que também possuía vários problemas que envolviam a trama política e social da cidade, e que por seu turno, tinha muitas semelhanças com a Bahia, onde um fato inesperado iria mudar todo o rumo de sua história, assim como também mudou na Bahia, assim também como mudou em Bom Jesus do Norte, ES.
Localizada ao sul do estado do Espírito Santo, distante cerca de 300 km da capital, Vitória, Bom Jesus do Norte, emancipada em 1963 e que faz divisa com o estado do Rio de Janeiro, conta com uma população aproximada na ordem de 8.900 pessoas, segundo dados do IBGE, e seria uma cidade interiorana como tantas outras Brasil afora, não fosse um pequeno, porém, significativo detalhe: sua comunidade, assim como na Bahia e em Antares, também resolveu mudar todo o rumo de sua história política, dando uma resposta a altura àqueles que a consideravam-na uma grande mentecapto.
Cidade acolhedora, população pacífica, honesta, trabalhadora e muito religiosa, que tem em São Geraldo Magela seu padroeiro, e o admirável e grande intelectual, Padre Luciano como pároco local, que conduz seu rebanho com acendrado amor e probidade exemplar.
Também digno de citação é o Poder Judiciário local, que graças a sua atuação impecável e irrepreensível pudemos ter uma eleição limpa e transparente, o que nos conduz às palavras, tantas vezes repetidas, pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luis Ignácio Lula da Silva ao se referir a assuntos importantes ocorridos ultimamente no seu governo: “nunca antes na história desse...”.
Pois bem, Bom Jesus do Norte cresceu e resolveu fazer história.
Na manhã daquele domingo, dia 5 de outubro de 2008, havia algo de novo e estranho no ar de Bom Jesus do Norte. O brilho no olhar das pessoas esteve diferente durante todo o dia. Homens e mulheres às ruas, ordeira e pacificamente a caminho das urnas de votação para exercer plenamente a sua cidadania. Nenhum tipo de manifestação onde ficasse explícita a preferência dos eleitores era visível; nenhuma ocorrência envolvendo bocas de urna ou brigas entre eleitores de opiniões diferentes fora registrada na delegacia local; ruas limpas. Bares recusando-se a vender bebidas alcoólicas atendendo a determinação judicial, o que faz reforçar a tese de que o povo brasileiro, em sua maioria, respeita e acredita na lei e na Justiça, guardiã da democracia, ainda mais quando se tem o Dr. Mario da Silva Nunes Neto à frente da Comarca local, homem de um caráter altivo, como poucos que tive o privilégio e a honra de conhecer pessoalmente, e que, doravante, seu nome estará registrado nos anais da História de Bom Jesus do Norte, e quiçá do Brasil, como “o Juiz do povo.”
Faz-se mister registrar, que minha admiração e respeito pelo Dr. Mário, se dá no sentido de que na condição de pesquisador e historiador, pessoas dessa honradez, que não se esquivam ante um pretenso poder, que não fogem à sua responsabilidade tão somente por mera conveniência ou temor, são figuras cada vez mais raras em nossa sociedade, citadas apenas em livros ou circunscritas ao seu meio, haja vista que no Brasil o que dá IBOPE é a corrupção, a violência, o futebol e claro, o carnaval, onde raramente notícias como a que estou escrevendo agora ganham espaços na mídia. Julgo apropriadas tais considerações, e apenas para esclarecimentos, que não tenho nenhuma ação tramitando no Tribunal de Bom Jesus do Norte, nem tampouco pretendo ajuizar, que a minha relação com o magistrado em questão é por pura admiração ao seu trabalho e a sua atuação enquanto juiz, nada mais além disso. Feito essas considerações, vamos nos ater aos fatos.
Não precisamos estar mortos, assim como alguns moradores de Antares, para que nossos descendentes façam ou pleiteiem aquilo que nos caiba fazer ou pleitear enquanto vivos. É nossa obrigação, além de estar em nossas mãos, mudar o rumo da história de nossas vidas, de quem amamos e mesmo daqueles que não conhecemos. Às vezes, basta uma palavra, ou um gesto, para mudar ou marcar a vida de uma pessoa de forma indelével.
Não obstante, se vivemos em sociedade, somos um responsável pelo outro, desde as funções as mais humildes aos mais técnicos. No fundo, estamos a serviço da coletividade, e isso não pode ser negligenciado pela sociedade da qual somos parte integrantes. “As revoluções são impossíveis, até se tornarem inevitáveis”.
Trotski, com essa oração, mostrou-nos que chega uma fase na vida do ser humano, em que o homem tem que decidir, que ele não pode mais continuar adiando uma decisão que lhe é singular, que a ele pertence, e que se tomada, fará surgir no horizonte novas possibilidades, algumas inclusive, que ele não acreditava ser possível.
Hoje, Bom Jesus do Norte fez história, ao promover a sua saída do esquife o qual julgavam que ela estivesse, mas a população estava bem viva e atenta aos fatos, aos discursos, as posturas e resolveu agir da melhor forma possível: democraticamente.
Antares também teve seu dia de “incidente”, que começou com a revolta dos mortos e depois se espalhou por toda a sociedade em função dos desmandos e improbidades administrativas cometidas pelos representantes políticos locais, e que por consequência culminou numa greve geral de trabalhadores, incluindo a dos coveiros municipais, aumentando ainda mais o descontentamento popular, o que só fomentou a revolta de vivos e mortos.
Sentindo-se desrespeitados nos seus direitos básicos, inclusive o de ser sepultados, os de cujus resolveram sair de seus caixões e seguiram para a cidade, dispostos a eles não retornarem até terem atendidas suas reivindicações, dentre elas, o respeito, o decoro e a ética. Tanto pelos políticos profissionais quanto pelas iminências pardas, que são aquelas pessoas que não estão declaradamente no poder mas que por incompetência daqueles que lá se encontram, acabam governando em seu lugar. Em tempo, qualquer semelhança com lugar, fatos ou pessoas é mera coincidência.
Por conta disso, iniciaram um debate com as autoridades e a população no intuito de esclarecer algumas pendências particulares e também, claro, políticas. Uns ficaram ao lado dos mortos, outros se esquivaram, e outros ainda se omitiram, mas era fato, que alguma coisa havia de ser feita para que aquele estado de coisa houvesse fim. Esse debate foi bem interessante, pois contou inclusive, com a presença de um advogado patrocinando os mortos, que por coincidência também era um de cujus.
Era fato típico em Antares os detentores do poder econômico, através de suas influências, leia-se dinheiro, convencerem o povo a votar nos candidatos que lhes eram mais convenientes para suas falcatruas. Convencimento esse em que, se o discurso mentiroso não fosse eficaz e de pronto-atendimento, partia-se para a compra declarada de votos, não se importando com as pessoas que ali estavam apenas como espectadores. Ato funesto, tanto para quem dá quanto para quem recebe, e que vai perdurar durante muito tempo em nosso meio, mas como tudo um dia chega ao fim, nesta cidade como em tantas outras desse Brasil, a população parece ter percebido que não seriam míseros reais que fariam a diferença em suas vidas, e resolveram dar um basta naquele estado de coisas da melhor forma possível: através do voto consciente.
Mesmo que alguns dos candidatos que estivessem concorrendo aos cargos políticos não fossem os mais indicados por conta de sua nada recomendada vida pregressa, eram sempre eles os eleitos, o que nos remete a brilhante tese de doutoramento em história do prof° doutor Ilmar Rohloff de Mattos, O Tempo Saquarema, onde o autor descreve a situação caótica na política do Brasil durante o I Império entre dois grupos que de nada tinham de distintos: Luzias e Saquaremas.

“ Monopólio da mão-de-obra, das terras, dos meios de trabalho; e também a tendência a monopolizar os homens, durante a vida e após a morte[1]”,

era a prática política que prevalecia no Brasil daquele período. Alguma semelhança com os dias atuais?
Esses monopolizadores, muitas vezes assumiam papéis de “intelectuais” tão somente por serem portadores de uma retórica que seduzia e que também inspirava confiança na população pela eloquência, mas que na prática, eram desprovidos de qualquer significado e compromisso com a ética, e a reboque com a população. Declarações mentirosas e que atendiam apenas aos seus interessantes, sempre pautados na lógica do assistencialismo e da corrupção e que tinha por fim o poder, como se o poder fosse algo que se pudesse dispor livremente, sem coerência, análise pautada na reflexão foucaultiana.
Seus opositores, eram eliminados à bala, ou então, encontrava-se uma maneira de prejudicá-los. Se funcionário público, alocava-os em outra seção ou transferia-os para outro município, se contratado, ficariam sempre à mercê dos seus mandos e desmandos, e se empregado da iniciativa privada, sempre se encontrava um jeito de prejudicá-los, essa era a práxis, essa era a sua lógica:

“simples agregados de clãs organizados para
a exploração comum das vantagens do poder”[2]

A Bahia amadureceu, Antares desapareceu, surgindo em seu lugar, uma nova sociedade, assim como Bom Jesus do Norte, a partir de janeiro de 2009. Graças ao trabalho incansável de pessoas comprometidas com valores que vão muito além das cifras, é que o resultado das eleições municipais de 2008 não poderia ter sido diferente em várias cidades brasileiras.
A máxima do admirável Nélson Rodrigues que dizia que “o dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro”, é uma farsa, que me perdoe o Nélson pela franqueza, mas um dia haveremos de nos encontrar para discutirmos o assunto, de preferência num bar lá no Céu ou próximo dele, mas que nesse pleito, definitivamente mostrou-se falsa.
Certamente que o Brasil ainda tem um longo caminho a seguir no sentido da consciência política, mas que fique claro, a tomada dessa consciência perpassa obrigatoriamente pela via da educação, a qual é impossível sem ela.
Nossos governantes têm que olhar com mais atenção para essa causa, evitando o êxodo de professores para outras funções por conta da baixa remuneração. O Estado do Rio de Janeiro recebe mensalmente algo em torno de 25/30 pedidos de exoneração por mês de professores insatisfeitos com os baixos salários, uma média bastante alta para a nossa realidade.
Um professor, com pós graduação, mestrado e doutorado em início de carreira, ganha exatamente R$ 607,28 (SEISCENTOS E SETE REAIS E VINTE OITO CENTAVOS) brutos, muito pouco para quem investiu muito na carreira (muitas das vezes sem condições materiais para tal), e que tem uma enorme responsabilidade social que vai muito além dos conteúdos; formar cidadãos críticos e atuantes.
Apesar de ser um apaixonado pelo meu ofício, às vezes bate uma tristeza e frustração exatamente por algumas vezes, não raras, nos faltar o básico, dentre os quais, dinheiro para compra de livros, mas sempre no meio do caminho, exatamente nesse caminhar, surgem pessoas que numa simples palavra ou gesto, fazem de nós verdadeiros super-heróis e super-heroínas, contribuindo para que continuemos a acreditar que temos uma papel significativo na sociedade, e que mais do que nunca é preciso prosseguir. .
O nosso papel de intelectual não é mais o de se colocar “um pouco na frente ou um pouco de lado” para dizer a muda verdade de todos: é antes o de lutar contra as formas de dominação exatamente aonde ela é, ao mesmo tempo, o objeto e o instrumento: na ordem do saber, da verdade, da consciência, do discurso.
Por último, que o futuro prefeito, eleito democraticamente pela vontade popular em Bom Jesus do Norte, Dr. Adson, aja sob os auspícios da Justiça, da probidade e do Amor em prol dessa sociedade, e de preferência, que sua gestão sirva de exemplo a ser seguido por governantes comprometidos com a Constituição Federal e com o Povo.
Que Deus lhe dê sabedoria e coragem para enfrentar o grande desafio que o senhor tem pela frente, qual seja, a difícil, porém possível, missão de tornar Bom Jesus do Norte uma cidade melhor para todos, reduzindo a pobreza, a marginalização e, sobretudo, dotando-a de meios mais eficientes voltados para a educação profissionalizante de nossas crianças e adolescentes, é possível, acredite!





A luta continua.





Bom Jesus do Norte, ES. Domingo, 05 de Outubro de 2008.



___________________________
Marcelo Adriano Nunes de Jesus.




PROF° REDE ESTADUAL DE EDUCAÇÃO RJ C.E.MARCÍLIO DIAS.
MESTRANDO EM HISTÓRIA.
UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA - VASSOURAS-R
PÓS GRADUADO EM HISTÓRIA
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES – RIO DE JANEIRO –RJ
GRADUADO EM HISTÓRIA.
FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN – RIO DE JANEIRO -RJ
GRADUANDO EM DIREITOUNIVERSIDADE DE IGUAÇU – ITAPERUNA – RJ
[1]Mattos, Ilmar Rohloff de. O tempo Saquarema: a formação do estado imperial. Rio de Janeiro: ACCESS, 1999, pág. 27
[2] Oliveira Vianna. O Ocaso do Império. 3 Ed. Rio de Janeiro, 1959, p. 19

Ética e Competência.




No Brasil, cada vez mais se ouvem clamores populares por ética e competência no trato com a res publica. Entretanto, parece haver alguma coisa´pertubadora e em contradição com aquilo que se clama, haja vista a situação caótica em que alguns municípios brasileiros se encontram e que tiveram por resultado uma escolha mal feita de seus representantes.
Uma boa parte dos brasileiros vai às ruas, faz passeatas, protesta por ética, dignidade, decoro etc., mas uma boa parcela dessa mesma sociedade, também se corrompe, vendendo seu voto, corrompendo o policial na rua, fazendo “colas” em dias de provas escolares, etc. Não obstante, no momento em que cabem a eles decidir através do voto consciente os rumos no sentido de se criar um país mais justo, seguindo os preceitos do art. 3° da Constituição Federal, parecem sofrer de uma amnésia coletiva, deixando-se levar mais uma vez pela omissão. Optam por candidatos assistencialistas, que não têm a menor capacidade de gestão, nenhum compromisso público, envolvidos em ilícitos os mais diversos, além da visão voltada exclusivamente para benefício próprio, de seus pares e familiares. Infelizmente, fatos assim são corriqueiros e comuns em alguns dos municípios da nossa federação, o que não deve ser visto como algo normal, mas sim, repudiados por todos nós, homens e mulheres comprometidos com o Direito e a Ética.
Quando o assunto diz respeito à política, no que concernem as campanhas eleitorais, o que se vê são promessas vãs e a criação de um Brasil virtual, onde, todos os problemas que realmente são vivenciados pela população - como se por mágica -, desaparecessem e dessem lugar a uma outra realidade completamente diferente daquela que de fato se vivencia, como falta de hospitais, escolas, serviços básicos de saúde, moradia, segurança, respeito, dentre outros., além de pessoal técnico qualificado para o serviço público, o que não é menos grave nesse contexto.
É triste ver esse quadro, ainda mais quando se tem o ofício de professar os ensinamentos que instrumentalizam o sujeito no sentido de dotá-lo da capacidade de ir além do óbvio, do estabelecido, e perceber que quase nada do que é dito naqueles espaços de construção do saber, voltados para a formação crítica, foi absorvido pelos educandos. É como se nada do que foi dito tivesse relevância, o que nos faz ter a leve impressão de impotência e solidão, e parafraseando Chico Buarque, “... tendo a leve impressão de que já vou tarde...” Raras são as perguntas, e mais raras ainda um posicionamento profundo e crítico face ao jogo político, diante disso, a relação se teatraliza. Então, não há do que se reclamar por conta de improbidades administrativas cometidas durante a gestão de candidatos não comprometidos com a ética e que por nós foram eleitos; não há que se abarrotar o Ministério Público, já tão sobrecarregado, com ações que são resultantes de nossas próprias escolhas e omissões, ao optar-se pelo assistencialismo e a corrupção em detrimento à ética e ao respeito com o bem público e coletivo.
É importante ressaltar, que minha crítica não atinge diretamente a qualquer pessoa em particular, candidato ou partido político, mas como formador de opinião que sou, além de cidadão, não posso me omitir; sinto-me na obrigação de manifestar meus pensamentos, desde que não ofendam ninguém, conforme o caso em tela, e que estão devidamente assegurados no art. 5° inciso 4° da Constituição Federal que preconiza “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.” Além disso, que fique claro que não apoio publicamente nenhum candidato, pois na condição de servidor público, não seria ético manifestar minha preferência publicamente, a qual poderia certamente influenciar as pessoas, afinal, com muito orgulho, sou um professor.
No caso concreto que envolve a disputa eleitoral em Bom Jesus do Norte, há dias, eu, assim como várias pessoas, vínhamos nos sentindo ultrajados, desrespeitados com o rumo que a campanha eleitoral vinha se desenvolvendo em nosso município: carros de som em alturas absurdas, a varanda da minha casa cheia de “santinhos” de candidatos, a disputa, quase constrangedora por votos, enfim, uma campanha totalmente em desacordo com os princípios éticos e legais por parte de alguns candidatos. O som dos carros de propaganda era tão alto, que eu não conseguia estudar em minha própria casa, tinha que me refugiar em alguma escola para poder preparar as minhas aulas e corrigir trabalhos e provas, abrindo mão, assim do conforto do lar por conta dos abusos que eram cometidos em nossa cidade.
Entretanto, eis que surge na ante-sala dessa disputa eleitoral, a figura de um jovem paladino: Dr. Mário da Silva Nunes Neto, Juiz de Direito da Comarca de Bom Jesus do Norte, ES.
Homem de coragem, que fez com que todos os envolvidos na disputa eleitoral, direta ou indiretamente, soubessem, ou se lembrassem, que a Lei é para ser cumprida por todos, independente da condição social e do poder econômico de cada um. Que o direito de um começa quando o do outro termina.
No momento em que se teve a impressão de que o caos havia se instalado em nosso município, onde decibéis poderosíssimos invadiam nossos lares, não permitindo sequer que se ouvisse um rádio ou se assistisse a uma TV; campanhas sujas emporcalhando nossas ruas; jingles com vários erros de português sendo propagados aos quatro ventos às alturas, fazendo parte do cotidiano local e contribuindo assim para o emburrecimento da população menos esclarecida, é que o ilustre magistrado e o Ministério Público resolveram se manifestar coibindo todo e qualquer abuso que estivesse em desacordo com a norma vigente pela disputa por votos.
Certamente que tal manifestação que culminou na obrigação do cumprimento da lei desagradou e muito uma boa parcela da comunidade que a considerou arbitrária. Porém, tal entendimento só é possível por pessoas que desconhecem a lei, ou, mesmo conhecendo-a, acreditam na impunidade, mas ordem judicial é para ser cumprida e não se discute, se cumpre. Não obstante, existe uma outra parcela, e que é bastante significativa de nossa sociedade, que aplaudiram o ilustre juiz e o M.P. em sua sábia decisão em moralizar a campanha eleitoral exigindo o cumprimento da lei sob pena de responder por seus atos. É por conta disso, que eu, Marcelo Adriano Nunes de Jesus, resolvi manifestar-me representando aqui essa parcela anônima de nossa sociedade silenciada, mas que não está alheia aos fatos e clama por mudanças profundas em nossa sociedade, aplaudindo de pé o Dr. Mário da Silva Nunes Neto e o Ministério Público de Bom Jesus do Norte, ES.
O Judiciário raramente é noticiado, quando o é, se dá tão-somente no sentido de polemizar suas decisões, como as últimas envolvendo o ilustre Ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes em relação ao caso Daniel Dantas e o uso polêmico das algemas, mas quase nunca é citado quando de uma decisão sua que visa beneficiar a sociedade como um todo, como é o caso presente.
Entretanto, os juízes de primeiro grau, como é o caso do Dr. Mário, tem um papel importantíssimo numa sociedade democrática de direito, fazendo valer a Lei para todos de forma indistinta e direta.
Destarte, ilustre magistrado, graças a sua decisão ética, competente e moralizadora, já não me sinto tão triste, tão desacreditado, tão impotente. Sua decisão contribuiu para que eu não desanimasse ante as vicissitudes do meu ofício, que é o de professor. Acredito que assim como eu, essa outra parcela crítica da sociedade norte-bonjesuense sentiu-se aliviada e encorajada a continuar acreditando na Justiça, o que nunca desacreditei, mesmo quando a Justiça erra em função de outros erros mas que nunca a desqualifica.
Finalizando, rogo que a população saiba escolher ponderadamente no próximo pleito marcado para o dia 5 de outubro candidatos comprometidos com a ética, com o decoro e, sobretudo com a res publica, não com aqueles assistencialistas e com suas promessas surreais onde só cabem absurdos.
Por último, meus sinceros agradecimentos ao senhor, ilustre juiz, que com sua sapiência, coragem e espírito público, fez valer a Lei, já que para alguns, o bom senso não foi suficiente para fazê-la respeitar, e que Deus continue a iluminá-lo em sua árdua, porém, magnífica jornada na senda da JUSTIÇA.



Muito obrigado.


Bom Jesus do Norte – ES. Domingo, 28/09/2008.




___________________________________
MARCELO ADRIANO NUNES DE JESUS
Prof. Doc. I Mat. 929.012-3















Marcelo Adriano Nunes de Jesus.
Professor da Rede Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro . C.E. Marcílio Dias.
Mestrando em História
Universidade Severino Sombra (Vassouras - RJ ).
Pós-graduado em História do Brasil
Universidade Cândido Mendes. ( Rio de Janeiro)
Graduado em História Licenciatura Plena
Faculdades Integradas Simonsen. (Rio de Janeiro).
Graduando em Direito
Universidade de Iguaçu. ( Itaperuna)







BOM JESUS DO NORTE (ES): VENEZA BRASILEIRA.


Nos últimos 60 dias, a região Norte e Noroeste Fluminense do estado do Rio de Janeiro vem sendo castigada pelas chuvas de verão, ocasionando enormes prejuízos às pessoas e também aos cofres públicos que têm que arcar com obras emergenciais e apoio material às vítimas.
Em Bom Jesus do Norte, município capixaba que faz divisa com o Noroeste Fluminense, a situação não é menos trágica: um morto, centenas de pessoas desalojadas, lojas invadidas pelas águas, mercadorias perdidas, um cenário de caos e desespero, principalmente para os mais pobres, que são os mais sujeitos as intempéries e às catástrofes naturais.
É estranho, mas quanto menos posses se tem, mais solidárias são as pessoas. Mesmo nesse cenário caótico, não raro, foi comum, durante todo o dia, pessoas que também foram vítimas, dividindo o pouco que lhe restaram com outras pessoas que perderam tudo. Contraditoriamente era para ser o inverso, ou seja, aqueles que têm mais condições deveriam ser os primeiros a se disponibilizarem em ajudar aos mais necessitados. Essa é a lógica cristã, essa é a lógica do bom senso, mas lamentavelmente não foi isso o que se assistiu no transcorrer de todos os dias que se seguiram.
Entretanto, apesar de ser o mínimo nesses casos, ninguém é obrigado a ajudar ninguém, pelo menos essa é a lógica das pessoas que pensam apenas em si; essa é a lógica do materialismo histórico, tantas vêzes repetidos por Marx, porém, paradoxalmente, essas mesmas pessoas lotam as Igrejas todos os domingos acreditando que agindo apenas dessa forma, encontrarão a salvação de suas almas, esquecendo-se que é impossivel a salvação fora da caridade, principal preceito cristão.
A enchente ocorrida no último dia 04/01/2009, apesar de trágica, trouxe junto, uma grata e surpreendente surpresa para a população norte-bonjesuense: o vice-prefeito da Cidade, Sr. Pedro Chaves, durante todo o dia seguinte ao evento trágico, sob chuva, de posse de vassouras e pás ajudando a desobstruir galerias pluviais, orientando pessoas atingidas pela catástrofe, comandando funcionários de várias secretarias empenhados em diminuir a dor daquelas pessoas, enfim, uma atitude altruística e que vai muito além dos gabinetes institucionais e dos cargos ocupados. Esse é o verdadeiro espírito público e cristão. Parabéns, Prefeitura de Bom Jesus do Norte!
Essa é a postura dos verdadeiros homens públicos comprometidos com Deus e com a sociedade que os elegeu. Nossa surpresa se dá no sentido de que mormente essa não é uma cena “sui generis”, ao contrário, o “normal”, é ouvir apenas discursos e promessas vãs de que “as coisas irão melhorar”, “ que é assim mesmo”, “Deus quis assim”, e por aí vai. O brasileiro não aceita mais tais discursos, ansiamos por mais ações e menos blá blá blá.
Repetidas vezes tenho dito que vivemos numa lógica capitalista, onde qualquer coisa que se almeje passa pelo viés do dinheiro, inclusive a educação, aliás, principalmente. É importante que se invista maciçamente nesse setor para que se tenha um país mais justo, mais educado e mais competitivo. Não obstante, faz-se mister boa vontade e espírito público para fazer as coisas acontecerem, pois como diz a canção “...quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”
Logicamente não se pode impedir as chuvas de caírem, muito menos as manifestações da Natureza, mas podemos evitar seus efeitos mais devastadores, sobretudo para aquelas comunidades ribeirinhas, que utilizam-se dos rios como depósitos de lixos por preguiça, comodismo ou mesmo por ignorância, o que faz com que qualquer chuvinha a mais jogue os lixos para fora e transforme Bom Jesus e várias cidades em Venezas brasileiras, claro, sem o glamour da sua par italiana.
Um outro problema não menos grave nesse contexto, diz respeito aos desmatamentos, muito comuns por aqui e que ocorrem devido a ânsia de lucro por parte de alguns criadores de gados que devastam uma boa parte da Mata Atlântica promovendo derrubadas de árvores e queimadas apenas para transformá-las em pastos, como se a floresta a eles pertencessem, satisfazendo assim, o seu ego e a sua busca desenfreada por lucros, não se importando se aquela queimada ou a derrubada daquela árvore irá trazer transtornos para a população e quiçá para si mesmos e seus familiares num futuro mais próximo do que eles possam supor, como esse que vivemos agora.
Mormente, esses pontos para serem melhorados, volto a insistir, passam pela educação, que se necessária deverá sim, ser punitiva para com aqueles que ignoram e ate zombam da lei. Se temos um povo melhor instruido, provavelmente muitos desses problemas não existiriam, ou se existissem, seus impactos seriam bem menores no meio-ambiente e por conseguinte na sociedade, que teria uma qualidade de vida melhor graças a uma educação que se propôs a ir muito alem das linhas teóricas presentes nos quadros negros das salas de aula. Falo de ações práticas.
Em muitos municípios brasileiros que acreditaram e investiram na educação, como é o caso de Águas de São Pedro, em São Paulo, (segundo menor município do Brasil), a qualidade de vida é uma das melhores do país, elevando o pequeno município (segundo maior IDH do estado de São Paulo), ao patamar de melhor cidade brasileira em qualidade global de vida, comparado com algumas cidades européias. Seu Índice de Responsabilidade Fiscal e Social (IRFS) é um dos maiores do Brasil, e olha que se trata de uma cidade bem pequena, como é a nossa Bom Jesus do Norte, o que nos faz crer que aqui também poderemos alcançar índices parecidos, basta um pouco de boa vontade política nesse sentido. Esses dados podem ser verificados no sítio http://www.cnm.org.br/ ou http://www.ibge.org.br/
Por último, o que se assistiu hoje em Bom Jesus do Norte pode ser considerado uma prévia de como será conduzida a administração em nosso município: com ética, respeito, trabalho e sobretudo competência, o que não quer dizer em absoluto, que tais qualidades não estivessem presentes na administração anterior, claro que estiveram, mas nunca é demais destacar a sua importância. Parabéns aos novos parlamentares, ao prefeito Dr. Adson Salim, ao vice-prefeito Pedro Chaves e aos novos secretários municipais, certamente muito bem escolhidos pelo chefe do Executivo. A luta continua!


Bom Jesus do Norte (ES), 05/01/2009.




Marcelo Adriano Nunes de Jesus.



Professor da Rede Estadual do Rio de Janeiro.
Mestrando em História Social – Poder e Política – Univers. Severino Sombra ( Vassouras – RJ)
Pós Graduado em História. Especialista em História do Brasil – Univers. Cândido Mendes – RJ
Graduado em História – Licenciatura Plena – Faculd. Integradas Simonsen – R
Graduando em Direito – Bacharelado – Univers. Iguaçu – UNIG – Itaperuna –RJ
E-mail: marceloadriano36@hotmail.com ou profmarceloadriano@gmail.com
Tel. (22) 8125-2846


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009


ÉTICA x EDUCAÇÃO.




Na distribuição de conhecimento, o ensino torna-se um processo excludente a partir da prévia seleção do que deve ser legitimado, reproduzido através da escolarização e, sob vários aspectos, se estende às decisões tomadas em sala de aula. A separação de classes em “turmas fortes” e turmas fracas”, entre outras medidas, por exemplo, reforça sucessivas reproduções no âmbito da escola, que segrega e cumpre seu papel de aparelho ideológico a serviço do Estado, já que o “fraco” deve juntar-se aos “fracos” e os “fortes” aos “fortes”, produzindo uma eleição para o substrato do conhecimento legitimo, aval para o saber que emprega e distingue atores sociais. Sobretudo, sob a égide do aprendizado de conteúdos técnicos, o conteúdo ideológico implícito pretere, sem dúvidas, a importância da comunicação para a forma da construção do conhecimento. Tema que seria de grande importância para pensarmos sobre currículos, pois crianças de uma mesma representação sociocultural têm uma comunicação comum, que faz representar por códigos específicos do grupo ao qual pertencem[1], logo de valores diversos, inclusive éticos e de razões que lhe são próprios.
Junto à distribuição de riquezas, associa-se, culturalmente, a distribuição de conhecimento, ambas distribuições como sendo efeito do afunilamento e das emergências do mercado de trabalho, que se adapta continuamente às demandas econômicas. Quem não consegue entrar no mercado de trabalho torna-se socialmente um incapaz, pois o modo competitivo como estas distribuições são feitas e compreendidas indica sempre uma falha individual.
A má distribuição de renda em nosso país não é vista como um fenômeno historico originado pelas condições sociopolíticas, mas como uma falha individual de cada um. Ocorre que o sujeito que não alcança sucesso ou “estabilidade” é visto como um fraco[2]. Enfim, todas as medidas econômicas que empobrecem e desempregam são colocadas como um mal necessário, “sacrifícios” que serão compensados no futuro. Há quanto tempo vivemos nos sacrificando e aguardando? Há séculos.
A ética deveria ser uma disciplina obrigatória no currículo nacional, compreendendo os diferentes tipos de relações (afetivas, sociais e profissionais) e a natureza distinta das organizações. Ao nortear as atitudes em todos os segmentos sociais – se pensamos em justiça para a vida em comum - , a ética como disciplina escolar questionaria a miséria. Se os interesses de lucro nas vendas do mercado de consumo individualiza – matematicamente, comunidades comprando um só produto geram menos lucro do que o consumo feito por cada indivíduo que as compõem -, e se a economia empresarial percorre investimentos que se distanciam cada vez mais das necessidades do bem estar do ser humano, a política econômica vigente deveria ser repensada. A manifestação da pluralidade cultural e do multiculturalismo, a queda de fronteiras, o livre comércio, entre outros são, do ponto de vista cultural, uma riqueza inestimável, porem, o individuo ao se expressar para o mundo não poderia esquecer de sua inserção nele, não poderia descuidar do que está ao seu lado. A miséria humana encontrada ao nosso lado hoje é vergonhosa. Há uma gama de necessidades sociais negligenciadas. Transformações profundas na política econômica com vistas à distribuição de rendas mais justa urgem imprescindíveis. Uma revisão ética nos propósitos de se produzir e de se dividir o que se produz material e culturalmente. Nenhum currículo poderá ser justo e adequado às atuais necessidades sociais e humanas – mesmo que do ponto de vista técnico ele esteja adequadamente ajustado – se a miséria persiste. A escola, a rua, o desemprego. Muitos encantados com a visão de poder acumular bens, em busca de uma felicidade efêmera possibilitada pelo consumo. Parece-me devido pensar que não há ética se não aprendermos a respeitar o humano. E, se isso soa utópico, devemos nos lembrar que todas as conquistas partiram de sonhos, até mesmo ir à lua! Por toda a historia, é mais difícil ao homem aprender a dividir do que conquistar povos e mundos. Dividir é um verdadeiro dasafio, mas creio que vale a pena tentarmos. A luta continua.



Bom Jesus do Norte(ES), 07/01/2009.






Marcelo Adriano Nunes de Jesus.











Professor da Rede Estadual do Rio de Janeiro.
Mestrando em História Social – Poder e Política – Univers. Severino Sombra ( Vassouras – RJ)
Pós Graduado em História. Especialista em História do Brasil – Univers. Cândido Mendes – RJ
Graduado em História – Licenciatura Plena – Faculd. Integradas Simonsen – R
Graduando em Direito – Bacharelado – Univers. Iguaçu – UNIG – Itaperuna –RJ
E-mail: marceloadriano36@hotmail.com ou profmarceloadriano@gmail.com
Tel. (22) 8125-2846


[1] BERNSTEIN,Basil. Comunicação Verbal Código e Socialização, in: Gabriel Cohn. Comunicação e Indústria Cultural, SP. Cia Editora Nacional, 1961.
[2] SUNG E SILVA. Conversando sobre Ética e Sociedade, Petrópolis: Vozes, 1996.

Liberdade

LIBERDADE.


Para Sartre e tantos outros filósofos existencialistas, a liberdade era algo que para ser atingida, o ser humano deveria abrir mão da sua própria existência para alcançá-la, onde somente através do suicídio se tornava possível tal fim. Essa reflexão entendida de forma equivocada levou muitos à morte, algumas delas causadas por uso abusivo de drogas.
Particularmente discordo dos ilustres pensadores que defenderam tal idéia. A liberdade é possível sim, e é o que existe de mais importante na vida de um ser humano, mais até do que a própria saúde, e que não precisa necessariamente passar pelo viés dos alucinógenos, barbitúricos ou álcool quando do uso irresponsável.
Nas últimas semanas, a população de Bom Jesus do Norte (ES) e Bom Jesus do Itabapoana (RJ) foi surpreendida por ações policiais que culminaram na prisão de várias pessoas e na apreensão de grandes quantidades de entorpecentes: aproximadamente 12 quilos, entre cocaína, crack e maconha. Paradoxalmente, uma quantidade enorme em se levando em conta a população das duas cidades e, sobretudo, por serem distantes das suas respectivas capitais, onde a população daquelas é bem maior que de ambas Bom Jesus. Mas um detalhe chamou a atenção nessa operação: diferentemente das operações policiais que ocorreram em outros estados e municípios, não houve disparo de um único tiro de arma de fogo, o que concede a operação sucesso total, pois vidas foram mantidas, drogas apreendidas e dadas todas as garantias constitucionais aos acusados em sua defesa.
Num país democrático de direito, é assim que funciona; num país que tem um Judiciário mais que competente numa pequenina comarca como é em Bom Jesus do Norte, é assim que funciona; num país que tem policiais quase sem recursos mais que têm muita vontade e competência, é assim que funciona. Certamente que o resultado desse trabalho não poderia ter sido diferente, ou seja, prevaleceu a inteligência em detrimento a truculência de alguns poucos agentes da lei que pensam ser eles próprios a Lei.
É certo, como dois mais são quatro, que em algum momento da vida todos nós cometemos um tipo de crime: quem nunca falou mal de alguém? Isso é crime, mas existe a diferença que é a consciência de se estar cometendo um delito, o desejo de vê-lo concretizado e o risco de ser ou não descoberto, e por outro lado, a ingenuidade, o valor mínimo da coisa, a consciência, etc.
Quem planta desespero, não pode colher felicidade; quem semeia a morte, não pode esperar vida eterna, isso é o que fazem os traficantes, essa é a realidade do mundo das drogas hoje, o que não quer dizer que tenha sido sempre assim. O uso de drogas é tão antigo quanto à própria humanidade, a diferença, é que naquela época, não havia a figura do traficante, assim como a escravidão na África no século XIV, que já existia antes da chegada do europeu ao continente, mas que também não existia o tráfico, elemento novo criado pelo homem branco nessa relação. É por isso que atualmente existem grandes apreensões, pois há muitos usuários em todo o mundo, porém, muitos deles não são bandidos, ao contrário, são pessoas do bem e que produzem bens os mais diversos para os seus paises, o que não quer dizer que as drogas não devam ser combatidas, sim devem, mas existe também um outro viés que oportunamente irei esboçar, mas que não podemos negar que exista: o prazer, admitido pela psicologia e psiquiatria.
O Brasil em muito vem avançando em sua legislação em relação ao tema, como por exemplo, a Nova Lei Anti-Drogas que endureceu para com os traficantes e aqueles que se associam ao tráfico, além de ter dado um novo tratamento para com os usuários, um avanço na legislação, porém, muita coisa ainda deve ser feita a respeito. Um outro avanço recente e que foi publicado no Jornal O Globo dessa semana, foi a Redução de Danos aprovada pelo Congresso Nacional, o que pessoalmente considero louvável, mas muitos pontos obscuros ainda devem ser ponderados de forma consciente, responsável e adulta, tanto pelos legisladores como pela sociedade, que não pode ficar de fora desse debate.
Por último, não podemos nos esquecer que a vida é feita de escolhas, e que essas escolhas são sempre solitárias, somos nós quem a fazemos e que por isso somos nós quem vamos responder por nossas ações e/ou omissões, a qual passa evidentemente pela liberdade. Quando se banaliza a vida, corre-se o risco de perdê-la, talvez um desses ditos populares mais idiotas que ouvi na vida foi que “cadeia não foi feita para cachorro”, está aí um belo exemplo de banalização do mal. É importante que se tenha consciência do valor da liberdade, do quanto ela é importante e que a sua ausência gera muitas dores tanto para quem perde quanto para os familiares e amigos que ficam.
Só se vive uma única vez, que essa experiência maravilhosa que é viver, seja pautada na lógica da coerência, do amor, da solidariedade e pela vida, nunca pela banalização, essa, é a condição humana: escolher entre o bem e o mal. Escolher entre ser ou não ser LIVRE.




Bom Jesus do Norte, 07/12/2008.



__________________________
Marcelo Adriano Nunes de Jesus.






Professor da Rede Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro.
Mestrando em História – Poder e Política. Universidade Severino Sombra – Vassouras – RJ.
Pós-graduado em História – Especialista em História do Brasil – Univers. Cândido Mendes –RJ
Graduado em História – Licenciatura Plena – Faculd. Integradas Simonsen – RJ
Graduando em Direito – Bacharelado – Univers. Iguaçu – Itaperuna – RJ
E-mail: marceloadriano36@hotmail.com profmarceloadriano@gmail.com
Tel. (22) 8125-2846.







Não são as idéias, mas sim as ações que determinam as pessoas.
Michel Foucault.

O DRAMA DAS ENCHENTES.



Seria um domingo como outro qualquer aquele 04 de janeiro de 2009. Passavam pouco mais das 17 horas, quando subitamente o céu tornou-se carregado de nuvens do tipo “cumulonimbus”, que são aquelas nuvens de cor acinzentadas que prenunciam tempestades e que trazem junto consigo muitos estragos. O prenúncio se confirmou, pois em poucas horas, nossa cidade seria castigada pelas chuvas que iriam culminar numa calamidade pública e lamentavelmente também iriam causar dois eventos morte.
Em regiões em que tais nuvens se fazem presentes, principalmente entre os meses que vão de dezembro a março, normalmente ocorrem chuvas torrenciais e que sempre terminam em enchentes, e nesse dia não foi diferente por aqui. Em pouco tempo, Bom Jesus do Norte (ES) e Bom Jesus do Itabapoana (RJ), que para agravar ainda mais a situação estão situados num vale, ficariam sob as águas, assim como várias outras cidades da região Sudeste ficaram, sobretudo no Norte e Noroeste Fluminense, Sul do Espírito Santo e várias cidades do estado de Minas Gerais.
Apesar de serem cidades que fazem divisas entre si, ninguém passava de um município para outro. Até mesmo a travessia a pé, era quase impossível de ser feita, isso já na segunda-feira. As duas pontes que dividem os Estados estavam completamente interditadas. De repente, todos estavam ilhados em seus bairros. Ninguém entra ninguém sai, todos cerceados em seu direito natural de ir e vir pela Mãe Natureza. Pessoas e animais num vai e vem frenético pelas ruas sem saber ao certo a que direção tomar, exceto que urgia encontrar um local seguro e longe das águas, que a essa altura, já tinha invadido todas as casas da parte baixa de ambas Bom Jesus e ameaçava invadir outras mais nas partes mais altas . Um desespero tomava conta das pessoas que há poucos dias atrás tinham passado por uma outra enchente e perdido a maioria de suas mobílias. Apesar disso, ninguém acreditava que uma outra tragédia como aquela do dia 19/12 pudesse se repetir em tão breve espaço de tempo, o que fez com que muitas dessas pessoas, com muito sacrifício, aproveitando o 13° salário, comprassem móveis novos para vê-los novamente serem destruídos e levados pelas águas em mais uma enchente. Parecia inacreditável que aquele drama tornasse a se repetir, mas infelizmente se repetiu e de forma mais trágica que a anterior.
Sempre que essas calamidades acontecem, sentimos um aperto e uma certa impotência invadindo nossos corações. Por mais dispostos que estejamos em ajudar o próximo, qualquer coisa que façamos nessas horas, é sempre entendido por nós mesmos como sendo muito pouco e insuficiente diante do tamanho do drama vivido por aquelas pessoas. Não obstante, o mínimo que se faça, é sempre melhor do que nada fazer. E foi o que a maioria fez. Mesmo aqueles que estavam em situação delicada, e eram muitos, trataram de ajudar o próximo como podiam, dando o seu melhor nessa relação tão dolorosa.
Ainda na segunda feira, dia 05, a rua principal de Bom Jesus do Norte parecia um formigueiro humano; pessoas em busca de informações, de imagens da catástrofe ou ainda, um vai e vem de várias centenas de passos perdidos, além de várias pessoas dentro d’água arriscando-se a contrair doenças numa tentativa infrutífera de salvar alguns poucos bens que lhes restavam. Essas eram as cenas mais comuns de serem vistas. Infelizmente, já se tinha a notícia de que uma pessoa havia contraido Leptospirose em Bom Jesus do Norte, doença transmitida pela urina dos ratos, assim como a Peste Bubônica, que no século XIV vitimou fatalmente 1/3 da população européia. Para a grande maioria da população, parecia surreal que elas estivessem vivendo novamente a mesma situação dramática de poucos dias atrás, aliás, situação que assim como a anterior, veio com bastante força e que mais uma vez trouxe consigo dor, destruição e desespero para várias famílias.
Entrementes, o ser humano é verdadeiramente uma Caixa de Pandora, sempre surpreendendo. Conforme houvera dito, a vontade em ajudar era muita. Independente da parte que cabe aos governos, as pessoas se mobilizaram, e cada um fez o que pode em prol dos que houveram perdido tudo, ou, quase tudo, isso talvez tenha diminuído um pouco a dor e o sofrimento daquelas pessoas. Os que ficaram a salvo das águas, abriram as portas de suas casas para acolher os mais necessitados e o fizeram de uma forma muito bonita. Pessoas que mesmo não precisando de ajuda governamental naquele momento, entravam em filas para apanhar leite que estavam sendo distribuídos pela prefeitura apenas para dar àqueles que mais necessitavam, e que fizeram isso tão somente porque muitas das vítimas não sabiam, até aquele momento, que a distribuição do leite também estava sendo feita durante a madrugada. Mais uma vez parabéns aos homens e mulheres de boa vontade , que além do leite, distribuíram alimentos, colchonetes e disponibilizaram abrigos para as vítimas, além da promessa de dias melhores. Esse é o verdadeiro espírito cristão, que independe de religião, ideologia ou partido político.
Essas pessoas em sua maioria são cidadãos anônimos, e que optam em assim continuar sendo, mas que fazem sua parte com acendrado amor e sem esperar absolutamente nada em troca, por mais nobres que sejam elas. Nem mesmo um simples “obrigado” elas esperam, pois não é esse o reconhecimento que verdadeiramente almejam, uma vez que têm consciência que sua estada aqui na Terra é apenas uma “passagem”, a qual deve ser pautada na lógica da solidariedade e do amor.
Foi interessante observar que muitas daquelas pessoas que estavam ajudando com comida pronta servida à mesa de suas próprias casas, por exemplo, ou ainda, abrigando famílias inteiras, também estavam passando por dificuldades financeiras, mas que não mediram esforços na hora de ajudar o próximo, e que optaram em dividir o pouco que tinham a conviver com o “peso” de saber que alguma coisa poderia ter sido feita, mas nada fizeram. Mesmo que isso lhes custasse o quase nada que dispunham naquele momento, preferiram, ainda assim, ajudar.
Mas o pior ainda estava por vir. Durante a madrugada do dia 6, isso já na terça-feira, as notícias que chegavam da Defesa Civil Municipal não eram das mais otimistas: muita água ainda tinha para chegar vindas da Serra do Caparaó e de outras regiões, o que fomentava ainda mais o drama das pessoas, fossem elas vítimas ou não; todos estavam apreensivos. Polícia com sirene aberta dando alertas para que as pessoas que ainda insistiam em permanecer em áreas de risco saíssem de suas casas, a chuva caindo, o nível dos rios da região aumentando, pessoas saindo de suas casa às pressas, um desespero total.
O dia seguinte talvez tenha sido o mais dramático para a população que dependia, no mínimo, de boas notícias, porém elas insistiam em não chegar. Essa ansiedade em saber se as águas baixariam ou não é que causava um grande reboliço na população mais atingida pelas cheias. O número de pessoas às ruas não parava de aumentar, carros da prefeitura e de particulares pra cima e pra baixo carregados de quentinhas para distribuir para uma população completamente perdida e faminta. Filas se formando em torno dos barcos que transitavam pelas ruas do Bairro Silvana, um dos mais atingidos pela enxurrada; pessoas em busca de notícias de parentes, amigos e também de seus bichinhos de estimação, mas apesar desse cenário de caos, ao menos as chuvas tinham dado uma trégua, o que fez com que a enchente estabilizasse. Dessa vez, o nível das águas estava inalterado, o que contribuiu para diminuir um pouco as tensões das pessoas, e que analisado sob a ótica do otimismo, era algo positivo no momento, o que gerava uma discreta esperança nos corações das pessoas de que as coisas iriam melhorar. É muito doloroso assistir a homens, mulheres e crianças olhando para o “nada” em busca de alguma resposta a tudo aquilo que estava acontecendo em suas vidas; e o pior, em dose dupla. Apesar desse quadro de perplexidade, caos e desespero, alguns se aproveitaram da situação para cometer – pasmem -, roubos e furtos nas casas que haviam sido abandonadas às pressas sob as águas. Isso, sim, definitivamente o cúmulo do absurdo, da banalização...Do mal, mas Deus nunca dorme, nosso Grande e Justíssimo Juiz.
No início da madrugada de quarta-feira, um fato roubou a cena e contribuiu de certa forma para levar um pouco de descontração para as pessoas que aguardavam na fila do leite, as quais, eram em número considerável. De repente, eis que por volta de 1h30min da manhã, surge, próximo aos Vicentinos, um dos locais de abrigo e de distribuição de alimentos, uma viatura da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo em ronda ostensiva completamente “apagada”, ou seja, sem nenhuma lanterna acesa, o que até aí, tudo bem, afinal, nada como o fator surpresa. Porém, dela saltaram dois policiais militares para uma abordagem em dois possíveis “suspeitos”, sendo que um deles, ao perceber a aproximação policial ,conseguiu correr e evadiu-se rapidamente do local. O outro, que não conseguiu fugir e aparentava ser menor de idade, após uma breve “geral”, fora conduzido até a “caçapa” da viatura, certamente atitude pautada em alguma evidência concreta encontrada pelos policiais. Contudo, nenhum dos agentes da lei ficou montando vigilância junto ao “suspeito”. Ambos distanciaram-se da viatura deixando a “caçapa” da mesma aberta, completamente com a porta levantada e com o indivíduo em seu interior sozinho, e saíram os dois, juntos, para procurar “algo” que fosse a evidência das suas suspeitas e que o detido pudesse ter jogado ao chão, o que supõem-se nada tenha sido encontrado com o mesmo. Por mais absurdo que possa parecer esta cena, diante desse procedimento e da população que a tudo assistia de camarote, é claro que o rapaz que estava na viatura, com a porta da mala aberta, desalgemado e sem ninguém fazendo-lhe a devida escolta, não perdesse tempo: tratou de dar no pé, deixando os policiais atônitos sem saber o que fazer diante daquela situação vexatória e inusitada perante uma população que não acreditava no que estava vendo bem ali, diante dos seus olhos e que poderia certamente ser digna de uma “vídeocassetada.” As pessoas não conseguiram segurar, e os risos foram geral.
Que fique claro que em momento algum essa lamentável ocorrência tencione macular a imagem dessa augusta instituição que é a Polícia Militar, nem tampouco de seus agentes, mesmo porque seus nomes não foram e não serão divulgados, ao contrario, trata-se de uma instituição séria e que presta inestimáveis serviços a população. Entretanto, não podemos deixar de mencionar o fato em virtude do contexto tragicômico em que ele infelizmente se inseriu.
Provavelmente, aqueles policiais também estivessem estafados, cansados e preocupados com eventuais parentes ou amigos que estivessem passando por esse drama que se abateu sobre todos nós, além do que, erros são para serem executados por humanos, muito embora alguns erros sejam indesculpáveis. Não obstante, a perfeição somente a Deus pertence, se agiram “certo” ou errado” não nos cabe julgar, mas apenas narrar um fato verossímel e ao mesmo tempo surreal que aconteceu neste dia, apenas isso .
Igualmente considero pertinente destacar o excelente serviço que nos foi prestado pela PMES durante as calamidades que se abateram e que permanecem sobre nosso município, pois diuturnamente seus bravos combatentes auxiliaram e auxiliam no que podem no sentido de amenizar a dor das vítimas, seja transportando pessoas e alimentos, seja desempenhando bem o seu papel constitucional que é o de patrulhamento ostensivo, dando tranqüilidade às vítimas e a nós, comunidade como um todo.
Por fim, recentemente em trabalho conjunto com as polícias civil e militar do Estado do Rio de Janeiro, a PMES e a PCES, fizeram um excelente trabalho de inteligência policial que culminou na apreensão de grandes quantidades de entorpecentes e na prisão de várias pessoas com envolvimento no tráfico. Portanto, fica aqui mais uma vez registrado nosso reconhecimento e agradecimento aos bons serviços prestados pela PMES à população norte-bonjesuense, lembrando que possuo parentes e amigos em ambas as polícias, tanto no estado do Rio quanto aqui, no Espírito Santo, o que por si evidencia não haver mal intenção quando da produção desta, além do fato que não conheço os policiais que estiveram naquela ocorrência, exceto de vista.
Retomando o diário da crise, se havia uma parcela da população que não tinha sido atingida diretamente pelas sucessivas enchentes e de que certa forma estava tranqüila até então por ter seus bens e familiares protegidos, a partir do dia 8, uma parte significativa dessa mesma comunidade começara a se preocupar, pois alimentos e água começavam a escassear nas casas e não havia aonde comprar, ou melhor, não havia como chegar aos mercados não atingidos pelas enchentes para adquiri-los, mais um drama a ser vivido, agora pela parte não atingida diretamente pelas enchentes.
Todavia, a partir das 13 horas desse mesmo dia, a água começava a dar sinais de que estava baixando, além da “promessa” vinda dos céus que indicava dia seco para aquele dia, o que se confirmava pelas poucas nuvens presentes na abóbada celeste. Entretanto, apesar de se notarem aglomerações pontuais na cidade, cenário completamente diferente dos dias anteriores, pudemos perceber que várias autoridades circularam durante todo o dia levando notícias acerca dos últimos boletins meteorológicos para a região bem como de todo um bom trabalho pertinente para a ocasião, além da ajuda humanitária entre as pessoas, que em momento algum cessou. Mas não foram somente altas autoridades do Poder Executivo e do Poder Legislativo que circularam por aqui. O padre Luciano, pároco de Bom Jesus do Norte, por várias vezes fora visto caminhando incansavelmente pela cidade levando um pouco de conforto espiritual para as pessoas, tão tristes e tão necessitadas de uma palavra de alguém que conhece e sabe levar o Evangelho como poucos, o que certamente contribuiu e muito, no sentido de confortar nossos corações. Muito obrigado, digníssimo Padre, que Nosso Senhor o abençoe sempre.
Agora já é madrugada do dia 09, sexta-feira. São exatamente 1h34min da manhã, e a água nas ruas realmente já baixou, mas não o suficiente para as pessoas retornarem a seus lares, pois ainda há um volume muito grande de água em muitas ruas e casas para baixar, o que acredito só deverá ocorrer daqui a mais ou menos uns dois dias. Foi muita água que desaguou por essas bandas, mas com as Graças Divinas, as bênçãos do padre Luciano, a solidariedade da sociedade e aos homens e mulheres de boa vontade, logo em breve as coisas voltarão ao seu normal, se Deus quiser.
No momento, não se ouvem sequer cachorros latindo, o que nos faz pensar que, mesmo nesta situação, reina a paz em nossa Cidade. Já não se ouvem mais sirenes dando alertas nem pessoas gritando desesperadas pelas ruas, as quais certamente estão abrigadas e alimentadas, tanto material quanto espiritualmente.
A polícia continua desempenhando bem o seu papel, pois as rondas ostensivas permanecem, o que garante a nossa tranqüilidade nessa madrugada.
Doravante, acredito que realmente a tendência é melhorar: não há anúncio de chuvas para esta sexta-feira aqui em nossa região, o nível dos rios está baixando, a população que fora desalojada, logo, logo estará em suas casas, e creio que o evento dessa semana serviu para aproximar mais as pessoas; é como se Deus se utilizasse das águas para amolecer os corações de algumas poucas pessoas que insistem em pensar apenas em si; quem têm olhos apenas para os seus problemas, ignorando o fato de que, queiram ou não, acreditem ou não, nossa missão aqui na Terra não se dá no plano singular, ao contrário, somos seres plurais e que fomos forjados com a missão de ajudar o próximo, e quando às vezes, não raras, nos esquecemos disso, Deus se utiliza de outras formas para que tenhamos condições de entender os Seus propósitos em relação a nós, aos animais e a Natureza, ainda que de uma maneira muito dolorosa como está sendo a presente. Não falo com autoridade de conhecimento de causa, pois não sou autoridade em absolutamente nada, sou um eterno neófito, e assim quero permanecer, mas me manifesto pelo coração. Essa, padre Luciano, vai para o senhor...

“Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos.” Antoine de Saint-Èxupèry. O Pequeno Príncipe.










Bom Jesus do Norte, 09/01/2009.







Marcelo Adriano Nunes de Jesus.
CIDADÃO BRASILEIRO.






A LUTA CONTINUA!









SEM TÍTULOS.