sábado, 23 de janeiro de 2010

O QUE FIZERAM DE NOSSOS JOVENS?

Quando criança, cresci cercado de valores os quais não os vejo tão frequentes em nossa juventude nos dias de hoje; falo de valores que me foram passados não apenas pela minha família, mas por toda a comunidade em que eu me inseria.

Era impossível para mim e meus pares ver uma senhora ou um senhor carregando bolsas de compras pelas ruas e não ir na sua direção e se oferecer para carregá-las. Essa era uma prática tão natural quanto ir à escola. Aprendi que aos mais velhos todas as reverências eram-lhes devidas: abenção, senhor, senhora, “posso ajudar”? Igualmente as autoridades policiais eram tratadas com toda educação e respeito. Atitudes simples, mas que hoje em dia são cada vez mais raras de se ver entre os jovens, o que talvez explique essa explosão de violência contra idosos e também contra a sociedade de modo geral. A família vem perdendo sua função e delegando-a em número cada vez maior para outras instituições, principalmente a escola. Pais não educam porque também não foram educados. Na minha época era inadimissível menor de idade consumir bebidas alcóolicas, ao passo que hoje em dia tal prática é fomentada por muitos pais que chegam ao absurdo deles próprios oferecem e incentivar o uso pelos filhos.

No Rio de Janeiro, cidade que nasci e me criei, construíamos “carrinhos de rolimã” para fazer “carreto” nas feiras livres que aconteciam às quintas-feiras para poder ter dinheiro para ir ao cinema nos fins de semana, os chamados “poerinhas”. Os filmes era sempre os mesmos, ou Kung-fu ou Drácula, mas nós adorávamos. Muitos filmes eram exibidos em preto e branco. Papai e mamãe não tinham dinheiro para nos dar, então, a solução era usar a criatividade para conseguir uns trocados honestamente. Naquela época os jovens podiam trabalhar, e quando eu saia da escola seguia para uma oficina mecânica próxima da minha casa para aprender uma profissão e ganhar umas moedas no final do dia. Eu tinha 11 anos.

A minha geração tinha sonhos e batalhava muito por eles, principalmente pela democracia, o que no meu ponto de vista infelizmente ainda não alcançamos. A escola era vista como um local sagrado, e os professores uma extensão da família. Não se tinham tantas tecnologias disponíveis para nos auxiliar no aprendizado como hoje em dia, ao contrário, vivíamos numa época de incertezas, onde o pano de fundo no cenário internacional era a Guerra Fria e no plano interno a Ditadura Militar (1964-1985). O mundo poderia acabar a qualquer instante, bastaria uma das potências apertar o botão e “bummmm”, seria o fim da humanidade.

Mas, mesmo vivendo a exceção como regra, a geração anterior a minha endureceu, mas não perdeu a ternura e passou-a adiante, mas parece-me que esse legado foi amplamente negligenciado pelas gerações seguintes.

A política era vista como algo sério. Quando o “Repórter Esso” entrava no ar, seguia-se um silêncio nas casas quase sepucral para ouvir atentamente às notícias e depois discuti-las.

A banalização e o desinteresse por parte da população é que é a grande responsável pela imoralidade no cenário político contemporâneo. Quando surge alguém para questionar aquilo que está errado essa pessoa é logo rotulada de “revolucionária”, ou “louca”; é como se essa atitude fosse uma atitude alienígena e indesejada pela maioria.

Finalizando, enquanto continuarmos a votar em Picciani, Cabral, Arruda, Collor e tantos outros, ainda vai levar muito tempo para que alcancemos a tão sonhada pax política e a conseqüente moralização da sociedade.

Talvez quando isso acontecer, aquele “velho” e “careta” modo de se educar um filho (a), seja a única alternativa que teremos para que num “outro” futuro, tenhamos seres humanos mais comprometidos, e sobretudo mais educados.

A luta continua

Marcelo Adriano Nunes de Jesus

Email: marceloadriano36@hotmai.com

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