quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O MAIOR HOMEM DE TODOS OS TEMPOS

Neste último dia de 2009 vou escrever sobre um Homem que não se compara a nenhum outro ser humano.

Um Homem que teve Sua história marcada por muito sofrimento, dor e incompreensão. Sua breve existência entre nós foi pautada exclusivamente no serviço ao próximo, independente da classe social, etnia ou fé das pessoas. Jesus não criou nenhuma religião, ao contrário, dizia que a relação do homem com Deus é livre e onde qualquer um invocar Seu Santo nome ali Ele se fará presente. Que maravilha é poder conversar com Deus em qualquer lugar! Será que se Jesus tivesse vindo ao mundo nessa época que escrevo teria sido mais bem compreendido? Quem sabe se ele já esteve ou está entre nós e ninguém percebeu? E se Jesus for aquele “cara” lá da esquina, todo sujo e maltrapilho o qual nem nos dignamos em olhar? É, meus amigos, pode ser que Ele esteja aí na sua esquina aguardando apenas um olhar seu.

Jesus deixou-se conduzir ao suplício e à morte por amor ao próximo, o mesmo homem que O negou e ainda continua negando-O quando se afasta de seus ensinamentos.

Dado a grande confusão que se encontra o mundo, Jesus de onde estiver deve olhar para o planeta Terra de uma forma muito triste ao constatar que quase nada daquilo que Ele nos legou pomos em prática.

A própria capacidade que temos de discernimento e raciocínio – expressão máxima da obra divina -, utilizamo-no-la à Seu serviço. Poucos são os homens e mulheres nessa empreitada. Na verdade, deveria ser o contrário. Jesus foi muito claro em Seus sermões. “Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”. E o que fazemos? O inverso, pois muitos de nós sequer se ama, basta olhar nossas atitudes em relação a si próprios.

Hoje, uma parcela bem significativa de pessoas está preocupada com qual roupa irá vestir-se, qual a festa comparecerá, qual viagem vai fazer, em qual liquidação estará, além de vários outros planos. Pouquíssimos estão preocupados com àquelas pessoas que não têm o que comer o que vestir e aonde ir. Muitos desses estão vagando sem lar, sem família, sem rumo, mas seguem sua caminhada com amor e fé nas palavras do Senhor.

Meu desejo nessa virada de ano é que Jesus tenha menos trabalho. Que as pessoas se aproximem mais e mais de Deus e Seus preciosos ensinamentos para que tenhamos um mundo melhor e Ele tenha a oportunidade de se apresentar novamente. “Quando o discípulo está pronto o Mestre aparece”. Tenho certeza que para algumas pessoas ele já apareceu.

Rogo, Senhor, que inunde meu coração de amor e sentimentos de solidariedade ao próximo. Que seja feita sempre a Vossa vontade e nunca a minha, para que dessa forma eu siga o Seu caminho e colabore na construção de um mundo melhor para todos. Que minha inteligência seja utilizada cada vez mais em Seus serviços. Que todas às pessoas desfrutem daquilo que tenho o privilégio de possuir, e paz na Terra aos homens de boa vontade.

A luta continua.

JESUS, Marcelo Adriano Nunes

domingo, 13 de dezembro de 2009

ENDURECER, MAS SEM PERDER A TERNURA

Talvez este seja o texto mais difícil o qual o me debrucei para escrever. Por outro lado, sempre nutri a ideia de que aprendo muito mais do que ensino. Esse é o meu ofício: aprender. Com isso em mente, no dia 11 de dezembro recebi um convite para participar das festas de confraternização da Polícia Civil da microrregião sul do Espírito Santo que aconteceria no dia seguinte. O surpreendente, é que não era para eu fazer a cobertura jornalística do evento, mas sim, participar como convidado.

Ao chegar ao local da festa, muita alegria, descontração e um clima familiar que muito me lembrou as festas em família. Em nada aquele dia me lembrou os eventos engessados e recheados de protocolos os quais já participei durante a minha vida. Ao contrário, eu estava muito feliz em estar ali. Aquela festa pra mim foi um belo presente. Homens e mulheres que dela participavam brindaram-me com aquela sensação maravilhosa que é estar em família. Conheci pessoas as quais meu pobre português não encontra adjetivos para definir, mas que na ausência deles, utilizar-me-ei de uma expressão que talvez se aproxime, mas que certamente não os definem: anjos. Anjos bons.

Homens, que nos protegem e nos guardam dos homens maus. Homens, que muitas vezes deixam a segurança do seu lar para se arriscar exatamente para que tenhamos dias e noites tranquilas. Homens que não medem esforços no cumprimento de seus deveres, os quais vão muito além de suas obrigações. Homens tão mal compreendidos, às vezes, pela própria família, e mais ainda pela sociedade. Homens brilhantes, que com parcos recursos conseguem fazer da polícia brasileira uma das melhores do mundo em termos de inteligência policial. Homens que se emocionam ante uma ocorrência que foge à capacidade humana entender do porquê de tanta maldade. Homens que são pais de todos nós, e foi assim que me senti ontem: protegido, amado e guardado por cada um deles. Homens que merecem toda a nossa reverência e respeito. Ontem, sem eu pedir, minha filha pediu abenção a eles em nossa despedida, talvez por também ter sentido a mesma sensação que eu. Homens... Verdadeiros homens, que não se vendem por dinheiro sujo, e que, não raro, não têm 10 reais no bolso, isso porque nenhum governo na história do Brasil valorizou a polícia, ao contrário, tudo de ruim que acontece em sociedade é culpa dela, com isso, o governadores correm para tv’s e rádios para justificar assim, a sua incompetência e despreparo na elaboração de projetos que passem pela valorização dos bons policiais.

Bom Jesus do Norte no sul do Espírito Santo tem 100% dos crimes elucidados e seus autores presos ou processados, mas isso ninguém noticia, pois não dá IBOPE, e esse é resultado do empenho, das noites mal dormidas ou não dormidas, dos dias fora de casa, da distância de suas mulheres e filhos e tantos outros inconvenientes que se impõem àqueles que seguem esse ofício.

Obrigado, muito obrigado a cada um de vocês, que apesar de tantas maldades que são construídas em torno da instituição que vocês representam, sem ela, a vida em sociedade seria impossível. Obrigado pelos dias tranquilos que desfrutamos graças aos seus incansáveis trabalhos. Obrigado, doutor Ricarte, doutor João Marcos, doutor Francisco, investigadores Cláudio, Marcão, Pedrinho, Isaac, Zanon, escrivão Toninho Gualhano e todos os demais membros da delegacia de Bom Jesus do Norte.

Dessa vez não vou terminar o texto dizendo “finalizando”, isso porque, estou iniciando, sim iniciando uma história. Hoje, meu queridos, sinto-me amparado por essa família que vocês representam. Desculpem-me, mas é assim que me sinto. Aprendi e muito com vocês nesses momentos em que desfrutamos daquela festa maravilhosa e que nunca vou esquecer. Gostaria de ter o dom para expressar tudo àquilo que meu coração está sentindo, mas aprendi com o poeta que tem coisas que fogem totalmente à nossa vã capacidade de entendimento, e realmente, prefiro continuar sentindo essa sensação maravilhosa que é de pertencimento à uma família, do que buscar termos para defini-la.

Feliz Natal e um 2010 que vá além das suas expectativas, e aqui, tenho certeza, A LUTA CONTINUARÁ.

Muito obrigado.

Marcelo Adriano Nunes de Jesus

domingo, 22 de novembro de 2009

OS MACUNAÍMAS DO BRASIL

Acompanhando o desempenho de algumas Câmaras de deputados e vereadores, cheguei a uma conclusão bem simples para se resolver a inércia de certos homens e mulheres que se candidatam a cargos eletivos.

Somado a sugestão do ético senador Cristóvam Buarque, de que os políticos com filhos em idade escolar deveriam matricular seus pupilos em escolas públicas e também proibidos de terem planos de saúde forçando-os assim a utilizar o serviço público, acrescento que fosse copiado o modelo inglês para aqueles que queiram exercer um papel no Parlamento Brasileiro: que a função de vereador, deputado e senador não fosse remunerada. Isso mesmo, sem salário nem mordomias.

Os “doutos” (sic) legisladores teriam apenas uma pequena ajuda de custo - o equivalente a um dia de trabalho do seu piso profissional -, quando fossem a plenário e efetivamente trabalhassem. Acabou a sessão, voltariam para seus empregos de origem, sem nenhum privilégio a mais, pois estariam prestando um relevante serviço à nação, afinal, não são esses seus discursos?. Se assim fosse será que teríamos tanta gente interessada em disputar uma eleição? Eleições muitas das vezes disputada via compra de votos, pistolagem e promessas tresloucadas. Deve ser muito bom ser vereador, deputado ou senador.

O brasileiro confunde democracia com omissão, impunidade, direitos ilimitados e deveres mínimos. Um menor de idade que mata alguém para roubar não cometeu um crime, mas sim um ato infracional; um menor de idade surpreendido vendendo crack não é preso, mas apreendido. Presidente, Ministros, Deputados e Senadores são blindados. Caso cometam crimes, não responderão na justiça comum, como todos nós, mas sim no Supremo Tribunal Federal, corte máxima do Brasil, e lá, talvez pela proximidade com o Congresso Nacional, a banda toque diferente. O mesmo acontece com promotores e juízes, que também têm foro privilegiado. Onde somos todos iguais perante a Lei com tantos privilégios distribuídos para uma minoria dominante? Um detalhe importante. Esses privilégios não foram criados por nenhum ser alienígena de outro planeta, ao contrário, foram leis criadas por parlamentares daqui, homens e mulheres iguais a nós e que por nós foram eleitos.

O termo democracia, definido em 10 páginas no Dicionário de Política organizado por Norberto Bobbio et alli, em quase nada se aproxima daquilo que é praticado aqui quando o assunto se refere à política. O que é exceção deveria ser regra. Atendendo a pressões estrangeiras e outros interesses internos, criaram-se cotas para negros nas universidades públicas, o que certamente irá fomentar ainda mais o preconceito. Necessário se faz melhorar a qualidade na Educação Básica para que não haja necessidade de cotas. Se há reparações a serem feitas, e certamente há, estas não devem ser dirigidas apenas para um grupo, que decerto sofreu muito durante os 338 anos em que vigiu a escravidão no Brasil, mas também para cerca de 90% da população brasileira, que também foi marginalizada e excluída do processo histórico, sendo utilizada apenas quando os interesses das classes dominantes exigiam a sua participação. Isso é democracia, privilegiar apenas um segmento em detrimento a outro? E o que dizer dos nordestinos, dos brancos filhos de pais pobres, das prostitutas que não tem sua profissão regulamentada, dos moradores de rua e tantos outros?

E o que pensar das pessoas de altíssima periculosidade, condenadas pela Justiça serem beneficiadas com a chamada “progressão de regime”? Apenas a título de esclarecimentos, nosso Código de Processo Penal foi elaborado em 1941. Nessa data, vigorava no Brasil o Estado Novo, período ditatorial do presidente Getúlio Vargas, onde várias pessoas contrárias as regime, foram mortas ou deportadas para outros países, conforme o célebre caso de Olga Benário, mandada para os campos de concentração da Alemanha Nazista por ordem de Vargas.

Surgido através de um decreto presidencial, o CPP continha essa “brecha” na legislação talvez para proteger os assassinos de Vargas, assunto, quem sabe, para uma tese de doutorado. Vigorando até hoje com algumas poucas alterações, na prática o marginal que é condenado, por exemplo, há 20 anos de reclusão por homicídio doloso e que deveria ficar preso pela pena aplicada, sai após cumprir 1/6 da mesma, isso se observado apenas um pequeno detalhe: bom comportamento na cadeia. O sujeito mata, estupra, assalta, trafica, é preso, condenado e ainda sai rindo, pois sabe que não vai cumprir nem metade da pena que lhe foi imposta. E nós, cidadãos de bem, como ficamos? Condenados a reclusão do lar com suas grades e cadeados.

Nessa linha de criação e manutenção de leis para “inglês ver”, o Brasil está repleto de Macunaímas, que são aqueles heróis sem caráter algum imortalizado na obra de Mário de Andrade. Homens e mulheres que se aproveitam da ignorância de um povo e pela oportunidade deixada no vácuo das várias improbidades cometidas por maus gestores propositadamente para se perpetuarem os trabalhos assistencialistas e a criação de leis que beneficiarão a si próprios ou a grupos de seus interesses e também para que retornem ao poder com os mesmos discursos de outrora. Veja o caso do Collor, Renan Calheiros e tantos outros alguns, bem próximos de nós.

Em cidades do interior, é muito comum assistir vereadores “brigando” por atendimento médico apenas para aparecer, cobrando das prefeituras remédios que são da competência do estado ou União prover, empregos comissionados na prefeitura para seus eleitores, mas quase nada fazem para criar leis constitucionais para que as pessoas não precisem do assistencialismo barato disponibilizado por eles. Estes são os Macunaímas contemporâneos que povoam nosso cenário político. Deem condições ao povo para não precisar de favores!

Urge uma atitude para se iniciar um movimento no sentido de se EXIGIR trabalho e competência dos homens públicos, a começar pelos vereadores, partindo para os deputados e senadores. Basta de assistencialismo, precisamos é de trabalho sério e competente. Leis, leis e mais leis que funcionem a afastem de vez o assistencialismo, lamentavelmente tão presentes em muitos municípios. Basta de brigar por um carro para levar a,b, c ou d num hospital de um outro município, isso é redundante. Quem quer fazer pega e faz. Coloca em seu carro e leva, não precisa fazer barulho. O que falta é vergonha na cara, a começar pelos eleitores de alguns vereadores que nem sabem a que vieram.

A luta continua

Marcelo Adriano Nunes de Jesus – marceloadriano36@hotmail.com

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

REFLEXÕES ACERCA DA PENA DE MORTE

Desde o surgimento do homem e sua organização em grupos sociais, a pena capital faz parte da sua rotina. Desde a Antiguidade, a condenação à morte foi utilizada ora como manobra política, como no célebre assassinato do filósofo Sócrates e do político Julius César, ora como ritual religioso das civilizações pré-colombianas, como incas, maias e astecas.

A condenação mais conhecida do mundo ocidental é a de Jesus Cristo, que apesar de ter vivido no oriente, foi crucificado tão somente por ter apresentado ao mundo uma nova maneira do homem perceber a si mesmo, o mundo e Deus.

Paradoxalmente, durante toda a Idade Média (476-1453), centenas de pessoas foram mortas pela Igreja Católica apenas em função de não concordarem com os dogmas cristãos ou ainda por apresentarem formas diferentes de perceber o mundo.

Nesse contexto, na Itália do século XV, um moleiro de nome Menocchio, desafiou os poderes da Inquisição afirmando que a origem do mundo estava na putrefação. Segundo Menocchio, tudo era um caos, ou seja, a terra, a água ar e fogo juntos, e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo que o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos. Por pensar diferente de seu tempo, Menocchio[1] foi condenado à morte exatamente pela guardiã dos Dez Mandamentos.

Portanto, nota-se que o tema pena de morte é por demais delicado, ou seja, por mais que se crie um discurso em prol da vida, a história está repleta de exemplos contraditórios nessa direção. No Irã, por exemplo, país muçulmano, a forma mais comum de se matar um condenado à pena de morte é pela via da lapidação, ou seja, à pedradas.

O Brasil também vivenciou a pena capital. Além de Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes - e muitos outros, o último condenado à morte foi o fazendeiro Manoel da Motta Coqueiro[2], que por conta de um erro judicial teve sua sentença de morte assinada pelo então imperador D. Pedro II em março de 1855. Entretanto, a prática só foi efetivamente abolida após o Golpe da República de 1889.

Nossa Lei Maior[3] no seu artº 1º diz que o Brasil “...constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos” a dignidade da pessoa humana além de outros incisos.

Entretanto, apesar de fazer parte do Protocolo da Convenção Americana de Direitos Humanos que luta pela abolição da pena de morte no mundo, o qual fora ratificado em 1996, o Brasil é o único país de língua portuguesa a manter em sua Constituição a pena capital, ...” não haverá penas: a) de morte, salvo em casos de guerra declarada, nos termos do art 84 inciso XIX...”

Mesmo que seja uma hipótese excepcional e muito restrita, funciona como cautela à agressão estrangeira, sendo autorizada pelo Congresso Nacional ou por ele referendada (art 84, XIX). Ainda que o objetivo da pena de morte, nesse caso especial, seja a soberania da República Federativa do Brasil, está clara a contradição, pois nesse particular rompem-se princípios humanitários internacionais tolerando-se excessos, em nome de uma força intimidativa, pois desobediências numa guerra podem conduzir ao massacre de milhares de vidas.

A possibilidade de erros judiciários – muito comuns -, que mesmo reconhecidos posteriormente não trazem a vida de volta porque são irreparáveis. Comprovação estatística prova que a pena capital não diminui a criminalidade, ao contrário, em alguns casos a faz aumentar.

Além disso, existe a questão humanitária, onde a direito penal moderno não nega que em todas as relações humanas o valor principal é a vida, mesmo que o criminoso tendo cometido crimes hediondos e com requintes de crueldade, o Estado não tem o direito de interromper a vida de quem quer que seja, porém, mais absurdo do que encontrar respaldo para imputar a pena de morte a uma pessoa, é justificá-la em casos onde haja guerras declaradas, pois a simples desobediência a uma ordem que independente de legal ou não, absurda ou coerente e que a pessoa se recuse a cumpri-la, ampara o Estado na sua execução.

Outubro - 2009

Marcelo Adriano Nunes de Jesus

A luta continua.



[1] GUINSZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. Rio de Janeiro: Companhia das Letras

[2] GARCIA, Basileu. Instituições de direito penal. Max Limonad: São Paulo, 1980, t 1 p. 132

[3] Constituição da República Federativa do Brasil, 1988

domingo, 25 de outubro de 2009

A NOBREZA POR PRINCÍPIO ÉTICO.

Cheguei à conclusão que as verdades filosóficas têm que ser apreendidas de uma forma e aplicadas de outra. Para não confundir rigor com rigidez, é fértil considerar que a filosofia não é somente uma exclusividade desse competente e titulado técnico chamado filósofo. Nem sempre ela se apresenta em público revestida de trajes acadêmicos cultivada em viveiros protetores contra o perigo da reflexão: a própria crítica da razão de Kant, com todo o seu aparato tecnológico, visava, declaradamente, libertar os objetos da metafísica do monopólio das escolas.

A natureza humana é mista, ou seja, não é fundada apenas na razão, mas de razão e sensibilidade. Sendo assim, permanecerá sempre uma empresa inútil a de querer apenas elevar o homem moralmente – isto é, racionalmente –, como pretendem alguns representantes de várias instituições, inclusive a escola. É preciso cultivar também a sua sensibilidade.

Visto dessa perspectiva, o homem em sentido pleno, empenha-se exatamente em dar vida às coisas que o cercam, em “libertar” os objetos que habitam sua sensibilidade, tornando possível um cultivo cada vez maior desta. O homem, assim destinado a aperfeiçoar a realidade, pode ser considerado um nobre. Onde quer que o encontremos, este tratamento aqui dispensado e esteticamente livre da realidade comum é o sinal de uma alma nobre. Deve ser dita nobre a alma que tenha o dom de tornar infinitos, pelo modo de tratamento, mesmo o objeto mais mesquinho. É nobre, toda forma que imprime o selo da autonomia àquilo que, por natureza é mero meio. Um ser nobre não se basta em ser livre; precisa por em liberdade tudo o mais à sua volta, mesmo o inerte.

Infelizmente, o capitalismo na sua forma mais cruel, não é percebido pela maioria das pessoas, e quando o é, elas fingem não vê-lo. É como aquele comercial em que uma criança de dentro de um carro ao ver uma outra criança abandonada na rua pergunta à mãe a razão daquilo, mas a mãe, ou não enxerga o problema ou finge não vê-lo. Essa é a forma como a maioria das pessoas faz a leitura do real: ignorando tudo aquilo que não lhe é conveniente e enxergando tudo aquilo que o é.

Diariamente pessoas saem de suas cidades em busca de oportunidades em grandes centros, principalmente nas capitais das regiões Sul e Sudeste. Entretanto, o grande problema dessas pessoas está na falta de escolarização e qualificação profissional, o que acaba se transformando num enorme obstáculo no acesso ao trabalho formal e consequentemente em seus sonhos de uma vida melhor e mais digna.

Recentemente Bom Jesus do Norte recebeu um casal nessas circunstâncias. Vindos do Rio de Janeiro após vagar infrutiferamente cerca de um ano na busca de seus sonhos, chegaram até aqui fazendo o caminho de volta. Trouxeram na bagagem apenas a frustração de não ter conseguido atingir suas metas e um filho na barriga, além de uma enorme vontade em voltar para casa, o que para eles naquele momento significava um sonho.

Saíram do agreste baiano com a esperança de dias melhores e alimentados pela falsa ideia propagada pelas tv’s em suas telenovelas de que o Rio de Janeiro é uma cidade de oportunidades para todos. Não é.

Após essa dura e triste constatação, resolveram voltar para sua terra natal e agora com um ser a mais que daqui a alguns meses estará no mundo e que vai precisar de um lar.

Sensibilizados e silenciosamente, a Prefeitura e o Judiciário da comarca iniciaram um movimento para ajudá-los. Enquanto os retirantes aguardavam ansiosamente a tão sonhada ajuda para retornar à Salvador, os nobres de Bom Jesus do Norte ajudavam como podiam: refeições e roupas limpas foram algumas das ações promovidas pelos moradores. A Prefeitura pagou a passagem do casal até Vitória e o Judiciário empenhou-se em encontrar uma solução para o resto que faltava.

Uma lista se formou para angariar fundos para custear o restante do percurso até Salvador e mais uma pequena ajuda para as despesas de viagem. Em três horas de iniciada, tinha-se todo o dinheiro necessário.

Não vou me referir aos valores individuais que foram doados, mas a vontade em ajudar, mesmo daqueles sem condições, deixa claro que os que puderam participar aprenderam muito bem a lição, pois para eles, tornava-se imprescindível tornar “libertos” aquele casal para que continuassem na busca de seus sonhos.

Hoje, Bom Jesus do Norte deu “vida” aquilo que a cercava imprimindo o selo da autonomia àquele casal, que a essa altura já deve ter chegado em casa; que não está mais na rua sujeito às intempéries e também à loucura.

Os nobres daqui usaram sua sensibilidade para atingir a razão, ou vice-versa. Talvez nunca saibamos a ordem em que ela se deu, se é que essa ordem existe e é importante.

Por último, dias atrás após tanto tempo em silêncio, minha filha mais velha me enviou um email. Nele, ela dizia que admirava a forma como eu “enxergava” a realidade. Respondi dizendo-lhe que a realidade é única, que não existe outra, mas sim, formas diferentes de se ver o mundo. Porém, para se ver bem é preciso olhar com a sensibilidade eternizada por Saint-Éxupèry: “Só sê vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos”. Espero que ela tenha aprendido.

Outubro de 2009.

Marcelo Adriano Nunes de Jesus

A luta continua.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O MUNDO DE PONTA-CABEÇA

O que foi que aconteceu com a família, que transferiu toda a sua responsabilidade de educar para a escola, ao invés de fazer o seu dever de casa?

O que foi que aconteceu com os alunos, que estão cada vez mais preocupados com os resultados das notas do que em construir o saber?

O que foi que aconteceu com a escola, que cada vez mais se distancia do seu papel e se preocupa tão somente em números do que em qualidade de ensino?

O que foi que aconteceu com os filhos, que estão mais preocupados com o bem-estar de seus amigos do que de seus próprios pais?

O que foi que aconteceu com a inocência de nossas jovens, e com os pais, que permitem que meninas se transformem em mulheres antes do tempo visíveis nos saltos agulhas e nas maquiagens excessivas que usam?

O que foi que aconteceu com os intelectuais, que se calaram ante tantas barbaridades cometidas contra a Natureza e a Ética em nome do progresso?

Por que se reduziu o IPI de carros e se manteve alto o de livros?

Por que o pré-sal é mais importante do que a pré-escola?

O que aconteceu com a política, que se divorciou da ética?

O que fizeram da ética, ao se negligenciar um dos princípios fundamentais da administração pública ao se editar atos secretos no Senado Federal?

O que foi que aconteceu na cabeça de alguns magistrados, que fizeram ressurgir a famigerada censura através da proibição de alguns jornais em noticiar os escândalos que abalaram o clã Sarney?

Como Zé Sarney conseguiu entrar para a Academia Brasileira de Letras?

O que foi que aconteceu no Supremo Tribunal Federal, que aprovado pelo Senado, concedeu um aumento em tempo recorde para seus ministros e considera inconstitucional um piso de novecentos reais para os professores?

O salário de um Ministro do STF será de R$ 26.723,00 em fevereiro de 2010 e de um professor do Rio de Janeiro R$ 707,00. Hoje, um professor recebe R$ 607,00 de piso.

Por que a morte de centenas de policiais é visto como “normal” e as autoridades não fazem nada para diminuir o drama de milhares de famílias que ficam órfãos de seus pais, filhos, irmãos, netos, etc?

O que está acontecendo com a sociedade, que aplaude, quando exibido em cadeia nacional, a morte de um bandido executado com um tiro de fuzil na cabeça?

Por que se banalizou tanto a morte a ponto de gerar indiferença nas pessoas?
Banalização herdada de Roma ou do Holocausto?

O que está acontecendo com o homem, cada vez mais distante de si e de valores que um dia foram consagrados por homens e mulheres que um dia morreram por eles?

Em qual sentido caminha a humanidade?

A luta continua.

Primavera de 2009

Marcelo Adriano Nunes de Jesus.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A PM AGONIZA

Apesar de ser uma das mais antigas instituições do Brasil, a polícia militar sempre foi tratada com descaso pelas autoridades e desdém pelas sociedades a quem servem muito mais que a polícia civil e a polícia federal.

Mas, paradoxalmente, independente do problema e do local em que surge, é o 190 que as pessoas recorrem em momentos de aflição; seja para resolver um problema de roubo ou furto, até realizar trabalhos de parto dentro de viaturas. É a polícia militar que diuturnamente - apesar dos descasos que foram acumulados ao longo de séculos de história -, desempenha seu papel além daquilo que está previsto na Constituição Federal.

Talvez poucos saibam, mas em muitas cidades brasileiras a polícia militar desempenha funções que não são suas, como a investigação, por exemplo, mas após a ocorrência do crime, cabe a polícia civil investigar, o que não acontece em muitas cidades brasileiras. À polícia militar cabe o patrulhamento ostensivo e a PM-2 (Serviço Reservado da instituição), assessorar o comando da corporação em planejamentos de patrulhamento e ações policiais. Mas, por ineficiência ou por falta de efetivo da polícia civil, o trabalho da PM acaba se sobrecarregando, o que concorre para a deficiência daquilo que é de sua competência fazer.

Mas, por outro lado em muitos estados a divisão de funções entre as polícias se dá com o que preconiza o Texto Maior. Trabalham pareadas na luta incansável contra o crime, cada uma fazendo aquilo que lhe cabe. Um bom exemplo nesse sentido vem da Capital Federal, onde, além dos bons salários pagos aos policiais, se tem toda uma infraestrutura voltada ao combate e a elucidação de crimes, exemplo que deveria ser seguido por todos os estados.

Entretanto, a parte esses e outros dramas vividos pelas PM’s e Polícias Civil da maioria dos estados, não raro se esquece que por detrás daquelas fardas ou uniformes estão homens e mulheres que também têm família, que também são sociedade, e que também anseiam findar mais um dia de trabalho para retornarem ao seus lares e abraçarem suas famílias. Porém, muitos não conseguem, ficam pelo caminho, tombam no estrito cumprimento do dever legal e logo são esquecidos por essa mesma sociedade hipócrita que critica as ações policiais, mas se esquecem que a convivência em sociedade sem a presença da polícia é algo inimaginável de supor, afinal, somos animais, animais humanos. Talvez se na escala de Darwin estivéssemos num outro patamar de evolução - como o dos macacos, por exemplo -, a existência das polícias não fosse necessária, mas em se tratando de seres humanos, não há alternativa.

Por último, um velho jargão diz que “cada sociedade tem a polícia que merece”, então, se queremos uma polícia melhor, cabe a nós nos tornarmos melhores, a começar pela leitura que fazemos da polícia e do nosso proceder em sociedade.

Existem maus policiais? Sim, existem, mas também existem maus professores, maus médicos, maus juízes, maus prefeitos.....A lista é longa, mas que não representa o desempenho da maioria. Parabéns, homens e mulheres que ostentam as fardas dos 26 estados e do Distrito Federal das Polícias Militares!

A luta continua!

Marcelo Adriano Nunes de Jesus.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A MÁQUINA DESEJANTE E SEUS INÚMEROS DRAMAS.

Às vésperas da comemoração do Dia dos Pais, acho importante fazer uma reflexão e dedicá-la a todos aqueles que são ou um dia exerceram o papel de pai, mesmo considerando que todos os dias devam ser celebrados em razão de alguém que julgamos importante e imprescindível em nossas vidas.

Fico imaginado como deve ser gratificante receber um abraço ou um beijo de um filho ou de uma filha ao final de um dia de trabalho, ou ainda, ser acordado com uma bela frase do tipo “eu te amo, papai”, ou talvez, um telefonema no meio do dia só para dizer que se estava com saudades. Privilégios que não são permitidos a todos, pois muitos pais não fizeram por onde usufruir desses momentos e sequer se preocupam com isso. Mas há também aqueles que além de se preocupar, não têm esse amor, esse cuidado, e sofrem em silêncio, porque em seus entendimentos, não são merecedores de tamanha injustiça e desamor. E igualmente imagino, choram por essa indiferença.

O ser humano tem a necessidade de encontrar respostas razoáveis baseadas na razão para explicar seus inumeráveis dramas, o que até certo ponto é válido. Entretanto, penso que o cartesianismo não seja suficiente para tudo explicar, afinal, determinadas questões fogem à nossa vã capacidade de explicação, principalmente quando o assunto diz respeito às ações e sentimentos humanos. Nesse contexto, como explicar a indiferença de um filho em relação a um pai que dedicou toda sua vida a ele? Como explicar as maldades e mentiras que são construídas contra um pai que só quis ser pai? Como explicar o caminho seguido pelo filho completamente contrário aos valores altruísticos que um dia lhe foram passado se ele reaprendeu outros valores que os considera ideais para sua vida? Como reexplicar valores da alma para aqueles que desaprenderam que o mais importante é o ser, e não o ter? A razão não consegue explicar isso, faz-se necessário um exame minucioso de paradigmas os quais muitas vezes são escolhidos por mera intuição dos filhos, e que em alguns casos, tornam-se catastróficos para os pais, que veem seus rebentos como produtos do meio quando tiveram a oportunidade de ser senhores dos seus destinos. Triste constatação.

A civilização do Renascimento volvia seus olhares para o passado em busca de respostas às incessantes inquietações de seu tempo. Hoje, a civilização dita “moderna” mas que continua com suas inquietações, olha para o futuro numa clara alusão a um pretenso progresso e consequente segurança material, como se essa tal conquista fosse resolver todos os seus problemas. É essa a preocupação da maioria: estabilidade material e financeira. Talvez essa busca estúpida seja uma das grandes responsáveis por esse distanciamento entre pais e filhos e amores verdadeiros. Não precisamos ir muito longe para constatar isso, basta relembrar aquilo que Jesus Cristo nos ensinou há mais de 2000 anos e fazer um exame de consciência. Seguimos verdadeiramente aquilo que Ele nos ensinou? Praticamos o amor, a solidariedade, a justiça, o desapego? Não...Fizemos tudo o contrário do que nos fora ensinado. Odiamos, somos egoístas, injustos e materialistas ao extremo. O resultado não poderia ser diferente do que ora é apresentado. Dor, sofrimento e vazio, esse é o legado construído por nós mesmos.

Talvez seja necessário a vinda de um novo ou velho Messias, para mostrar ao mundo a transitoriedade de nossas ações e que seguem apenas no sentido da individualidade e no isolamento do ser desejante, além do seu distanciamento cada vez maior da plenitude da vida e que passa pelo amor aos pais, que mesmo esquecidos, NUNCA esquecem seus filhos.

Feliz 365 Dias dos Pais!

Marcelo Adriano Nunes de Jesus.

A luta continua.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Ao meu amigo explícito e aos ocultos também

Há quem diga que não se tem como mensurar o valor de uma amizade. Outros ainda dirão que amizade é “coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração”. Mas o que significa guardar algo no coração? Afinal, muitas coisas “guardamos” dentro dele, principalmente a Caixa de Pandora com a sua esperança.

No meu entendimento, considero insuficiente, – que me perdoe o Milton -, definir amigo apenas como “uma coisa” para ser guardada no lado esquerdo do peito. Porém, concordo plenamente quando se diz que muito já se falou a respeito do assunto mas que ele nunca se esgotará. Amigo, amigo de verdade, é aquele que age segundo os preceitos éticos; que não mistura as estações caso uma das partes esteja numa condição socioeconômica privilegiada em relação ao outro ou vice-versa; que passa por algumas vicissitudes da vida sem incomodar o amigo, o que quando acontece, o verdadeiro amigo ao saber do infortúnio, sofre em silêncio por ter sido poupado. Amizade significa acima de tudo preservar o outro.

Amigo...Quando penso em alguém, várias pessoas me vêm à mente. Tenho alguns poucos que considero, à parte minha família, mas uma pessoa em especial me tem chamado bastante à atenção nos últimos tempos devido a sua natureza doce e leve; leveza quase insustentável do ser e cada vez mais rara. Raridade comparada ao achado de uma Orquídea Negra – encontrada apenas nas altas montanhas do Himalaia e que só floresce uma única vez em sua curta existência e depois morre -.

Antoine de Saint Exupéry em seu clássico, certa vez escreveu que se “tu amas uma flor, é doce de noite, olhar o céu e todas as estrelas estão floridas”. É assim que percebo esse meu amigo quando vejo outros médicos; todos estão floridos, e meu coração se transborda de alegria e amor ao perceber que a amizade rompe a barreira do tempo e do espaço, pois ainda que pela natureza de nosso trabalho e vida cotidiana estejamos longe fisicamente, procuro irmanar-me com meu doce amigo Adir Amado Henriques Júnior e transmitir-lhe, em pensamentos, toda a paz, alegria, sucesso e solidariedade que seja possível a um ser humano transmitir a outro, e sinto que o mesmo se dá no sentido inverso. É um sentimento que foge à capacidade humana definir.
Talvez a amizade se resuma a isso: na incapacidade humana de definição. A gente apenas sente, e qualquer pretensão em defini-la, torna-se insuficiente ante sua grandeza.

Não raro, acredito que eu receba muito mais do que mereça em minha vida, sobretudo, quando reflito acerca das minhas amizades e também da maravilhosa família que tenho. Amo a todos, alguns desses amigos conseguem sentir esse amor, outros se perdem ao tentar encontrar uma definição. Não obstante, o mais importante é a oportunidade que temos de amar e ser amados. Alguns são mais privilegiados do que outros por trazerem o nome Amado e Jesus de nascença, o que não significa que outros também não sejam privilegiados, mas aqui entre nós, meu amigo, é ou não é um privilégio: Amado Jesus?!
Finalizando, meu amigo Adir, agradeço a Deus e aos Mestres a oportunidade de reencontrá-lo novamente. Sei que não viemos a esse mundo a passeio. Nossa existência é pautada num único propósito: diminuir a dor alheia. Em alguns casos, a dor está na alma, e só um médico, para diminuir essa dor, ainda que a formação desse “médico” não sejam as tradicionais academias de medicina.

A luta continua.

Marcelo Adriano Nunes de Jesus.

B.J.N. – INVERNO DE 2009.

domingo, 12 de julho de 2009

O PARAÍSO É UMA QUESTÃO PESSOAL

Longe do modelo ideal de sociedade, mesmo assim podemos nos considerar privilegiados por morar num lugar tão aprazível e tranquilo, como o que vivemos, ainda que com alguns problemas estruturais que não poderiam deixar de ser nesse modelo característico de sociedade.

Longe daquilo que preconiza a cartilha do SUS, - diga-se de passagem, um dos melhores sistemas de saúde do mundo - aqui ainda é possível viver sem um plano de saúde e com atendimento público minimamente garantidor, apesar de sérios problemas, como hospitais fechados e outros que se arrastam com graves crises financeiras. Mas no Brasil de um modo geral, infelizmente isso é mais comum do que se imagina, o que não significa que devamos encarar a situação como natural. Não é. Pelo menos aqui ninguém morre por falta de atendimento médico, como acontece frequentemente nas grandes cidades.

Longe dos padrões primeiromundistas, a política de segurança pública da região consegue propiciar aos moradores e visitantes a sensação de segurança – algo tão raro de acontecer nos grandes centros – além das polícias cumprirem fielmente suas funções constitucionais. Raramente por aqui se têm notícias de crimes de repercussão. “Bala perdida”?! Não sabemos o que é isso. Onde vivemos, é possível esquecer a chave na porta de casa e encontra - lá no mesmo lugar. É possível deixar nossos filhos brincando nas praças e ruas sem o perigo iminente de um tiroteio, como o que vitimou a pequena Priscila, jovem de 13 anos baleada no dia 8 de julho, dia seu aniversário, quando fazia compras com sua mãe no bairro da Vila da Penha, no Rio de Janeiro.

Longe dos maus exemplos que vêem de cima, é possível acreditar na Justiça, onde, independente do poder econômico das partes, nosso Judiciário - sempre  atuante -, passa-nos a impressão de que a Justiça foi feita para quem dela precisou.

Longe dos escândalos que envolvem diariamente os políticos desse Brasil afora, é possível acreditar em dias melhores e ver resultados, afinal, não é em qualquer lugar que você toma café da manhã com o prefeito ou o vereador de sua cidade na padaria da esquina e tem a oportunidade de fazer suas queixas, cobrar providências ou mesmo agradecer por uma melhoria que beneficie a todos, sem favoritismos pessoais.

Separadas apenas por uma pequena ponte, Bom Jesus do Norte e Bom Jesus do Itabapoana guardam segredos que só quem vive aqui os conhecem, mas uma coisa é certa, apesar das muitas reformas necessárias, estejam certos, o paraíso para se viver é aqui, e você ainda pode escolher, morar no Espírito Santo ou Rio de Janeiro. Aqui, a expectativa de vida se dá com qualidade.

 

                                              A luta continua.

 

 

                                          Marcelo Adriano Nunes de Jesus.

domingo, 28 de junho de 2009

QUAL O MODELO DE SUA PREFERÊNCIA?

 

            É inegável o fato de que atualmente, e talvez sem precedentes na história, hoje exista uma grave crise mundial de paradigmas. Família, instituições públicas, religião e também, claro, o homem.

            Com o advento da imprensa criado pelo alemão Gutemberg,  era de se esperar um certo avanço na forma de como o homem fazia a sua leitura de mundo e como essas novas interpretações poderiam contribuir na melhoria da qualidade de vida do sujeito. Durante um tempo houve esse avanço, sendo a mais conhecida da época a Reforma Protestante (1550).

            Depois dela, outras ocorreram, mas apenas para alguns e também apenas em poucos aspectos. Muitos homens e mulheres continuaram sós naquilo que acreditavam. Alguns morreram por pensar de forma diferente da maioria, conforme o caso do moleiro Menocchio*, morto na fogueira da Inquisição por não acreditar apenas nas verdades reveladas.

            Livros que foram escritos há séculos se reafirmaram como a única explicação coerente e razoável para todas as inquietações humanas. Por que nada de novo surgiu desde então que elevasse o homem a patamares superiores aos da superstição e ignorância?.

            O que há de errado em se criticar o estabelecido? Seria o medo, a ignorância ou ambos o grande responsável? Deus, caso realmente exista na forma como se imagina, não ficaria nada satisfeito com a limitação humana na busca de novos sentidos dada a enorme capacidade que Ele próprio nos deu para pensar e agir. Como alunos na grande escola da vida, certamente seríamos reprovados nessa e também em outras matérias.

            Vejo que o grande problema criado a partir dessa dualidade - que é a capacidade humana de pensar e agir versus a inércia no caminho dessa busca - , foi ter como resultado o distanciamento entre o homem e ele próprio. As pessoas se projetam no outro. Percebo que elas querem qualquer coisa, menos serem elas mesmas. Estranho isso, não?! Mas basta dar uma olhada na grade de programação das TV’s e constatar que tudo o que o homem quer é ver ele projetado num personagem, - oportunidade disponibilizada nos programas oferecidos pelas emissoras -. Talvez por essa razão, as novelas  serem exibidas no horário dito nobre para satisfazer a grande demanda, mas não se iludam, não é demanda de todos.

            Nelson Rodrigues – teatrólogo brasileiro -, certa vez disse que toda unanimidade é burra, imagino a pressão que esse sujeito tenha sofrido por pensar diferente da maioria das pessoas do seu tempo. Mas é exatamente isso que acontece com alguns professores que tentam mostrar aos seus alunos que o mundo não é dessa forma como alguns querem fazer parecer crer. Que existem outros e mais significativos valores que devem ser perseguidos para que assim se construa uma sociedade mais crítica e a partir daí um mundo melhor e mais justo para todos.  Mas quem se importa com isso? As pessoas querem é criticar maldosamente, sejam as críticas oriundas de professores, pais, alunos ou comunidade. O mais triste nessa história, é que essas pessoas correm o risco de num futuro bem próximo elas próprias serem vítimas de seus descasos e omissões, muitas das vezes resultado de seu próprio orgulho e ignorância em lidar com o “novo”, aí é claro vão apontar a escola como a grande vilã e responsável por suas tragédias pessoais, mas vão se esquecer que na verdade as consequências são resultado de suas escolhas.

            Enquanto isso, as igrejas continuam lotadas por uma boa parcela dessas pessoas que estão se lixando para o seu semelhante mas que fazem questão de serem vistas pelo líder religioso como um bom cristão por estar todo domingo na igreja e contribuindo mensalmente com o dízimo; familiares que não se respeitam e se violentam, mas fazem questão de mostrar a todos que estão juntos – custe o que custar - ; servidores públicos que não cumprem fielmente a sua função, muitas das vezes ignorando o Estatuto do Servidor Público e prejudicando o bom andamento do serviço e a população em nome da estupidez corporativista e da mentalidade de que “eu ganho muito pouco para fazer isso ou aquilo”, e por fim o homem, que tem a oportunidade de mudar mas insiste em ficar apenas assistindo a tudo isso de camarote ou, confortavelmente no sofá de sua sala de estar diante da TV. Então, qual o seu modelo?

 

 

* Carlo Ginszburg. O Queijo e os Vermes. Ed. Companhia da Letras.

 

 

                                   B.J.Norte, 28 de junho de 2009 – Inverno.

 

                                               A luta continua.

 

                                    Marcelo Adriano Nunes de Jesus

domingo, 21 de junho de 2009

O SENTIDO DA VIDA, É O VALOR QUE NÓS LHE ATRIBUÍMOS

 

 

            Ultimamente tenho refletido mais intensamente acerca da existência humana. Para ser sincero, essa tem sido uma prática comum e contínua. Diante de tantas mazelas sociais, me pergunto: qual o sentido da vida para o homem?

            Tenho percebido em meus olhares que esse sentido adquire formas e significações diversas e que varia no tempo e no espaço e de ser humano para ser humano.

            Para uns, ter status é o verdadeiro sentido da vida, não se importando que tipo de status ele seja, podendo ser desde de um chefe de uma organização criminosa a uma pessoa que está em todas as colunas sociais. Para outros, o poder é o que justifica esse sentido. Para um terceiro grupo, o reconhecimento público por seu trabalho é o que valida essa existência. E finalmente, existem aqueles que entendem que o verdadeiro sentido de sua existência repousa naquilo que ele faz em prol da humanidade, não se preocupando com o resultado que suas práticas em sociedade terão a níveis de status, poder ou reconhecimento público. Satisfazem-se pelo simples prazer em ajudar.

            Também tenho observado que quando se fala em “contribuir de alguma forma com a humanidade”, as pessoas imaginam coisas grandes, vultosas, descobertas mirabolantes. Mas não é isso. Comecemos pelas pequenas coisas. “Amai-vos uns aos outros assim com Eu vos amei”. A chave para o entendimento do sentido da vida repousa exatamente nesta frase cunhada a mais de 2000 anos e Quem a professou sabia perfeitamente da triste condição humana, por isso, talvez a tenha criado.

            Há pessoas que vivem hoje exatamente como viviam os operários da Inglaterra no início da Revolução Industrial ocorrida no século XVIII, ou seja, em péssimas condições sanitárias, de saúde, de moradia, de alimentação e etc. Pode parecer surreal, mas basta dar uma olhada nas milhares de favelas brasileiras e também africanas e constatar que o cenário é exatamente o mesmo, com algumas poucas diferenças. Mas sobram descasos e indiferenças aos sofrimentos alheios, assim como no passado.

            É preciso amar mais e intensamente. O vazio que muitos sentem e a ausência de práticas simples, porém, eficientes voltadas para o “outro”, é o que justifica o drama de milhões de seres humanos que se encontram nessa condição e também nessa incessante busca do “eterno retorno”.

            Nada muda se a mudança não ocorrer primeiro em nossa maneira em fazer a leitura do mundo. Comecemos amando a nós mesmos em primeiro lugar, pois só por esse caminho teremos condições de amar o próximo. Falo mais uma vez de amor verdadeiro e profundo. Amemo-nos com todos os nossos erros e imperfeições, mas também façamos bem o nosso “dever de casa” legado pelo Pai.  Pare e perceba que pelo simples fato de estar neste plano você já é um vencedor. Sua história de vida se iniciou a partir do momento em que você travou a maior batalha de sua vida que foi vencer os outros milhões de espermatozóides que disputaram com você o privilégio de entrar no útero materno. E lembre-se, salvo raras exceções, apenas um consegue vencer essa enorme “batalha”, e você conseguiu. Você é um verdadeiro milagre da existência humana!

            Nossa existência aqui não pode se basear no vazio. Temos que fazer alguma coisa urgente e relevante para o nosso semelhante, por menor que possa parecer nossa ação, pois um dia haveremos de prestar contas Aquele que nos permitiu o privilégio de estar aqui. E qual será a nossa resposta quando Ele nos perguntar: “O que você fez da sua vida em favor do seu semelhante e que Eu chamei de irmão?

                                                                                 

 

“Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas ainda não aprendemos a viver como irmãos...”

                                                                                  Martin Luther King       

 

                                                            A luta continua.

 

 

 

                                 Marcelo Adriano Nunes de Jesus

 

 

                                     19 de junho de 2009  - Outono.

 

sábado, 16 de maio de 2009

BASTA!

14 de maio de 2009.

 

A TAL DA POLÍTICA É DIFÍCIL DE ENTENDER...

Pelo menos em terras tupiniquins.

Em viagens por esse Brasil afora, dia desses resolvi assistir a uma dessas várias sessões plenárias em uma pequenina cidade do interior. Ao sair da sessão - depois de quase duas horas -, tive a leve imprensão de que a política brasileira é construída na base da oposição e de interesses pessoais. 

A maioria dos vereadores posicionam-se contrário a tudo: desde um aumento justo na diária do  Executivo para que assim possa melhor desempenhar seu papel, a criação de projetos relevantes que visem uma melhoria na qualidade de vida das pessoas.

Entretanto, quando o assunto diz respeito às leis, regimentos e emendas das Casas Legislativas que atendam a interesses outros dos citados acima, todos – se não a grande maioria -, são aprovados. Cadê a oposição nessas horas? Fico me questionando. Cadê o povo, que mesmo presente a sessão, não se manifesta?

É preciso que se tenha consciência que hoje em dia todas as operações que envolvam dinheiro público são fiscalizadas pelos Tribunais de Contas e havendo malversação do erário os (ir) responsáveis terão que prestar contas ao Judiciário.

Existem municípios que são distantes de suas respectivas capitais, o que obriga prefeitos e secretários a se deslocarem até os centros de decisões políticas de seus respectivos estados em busca de investimentos e apoio político para seus projetos. Mas esse deslocamento custa dinheiro. Sabemos que existem pessoas inescrupulosas que fazem uso do dinheiro público como se seu fosse, mas também há aqueles que são sérios e muitas vezes acabam usando seus próprios recursos para se deslocarem. Há situações em que verbas são liberadas a partir de almoços e jantares, o que não significa falta de ética, isso faz parte do jogo, afinal, que não gosta de um mimo? Porem, se o Executivo não tiver meios adequados à sua mobilidade, quem vai pagar a conta é o município; quem perde, é a população, que deixa de ter investimentos em infraestruturas e conseqüente perda de criação de postos de trabalho.

Chega de tanto discurso vazio, de discussões se “a”, “b” “c” ou "d" merecem ou não ser agraciados com diplomas de honra ao mérito ou coisas do gênero. Basta de tanto blá, blá, blá e ti ti ti! Está mais do que na hora de alguns “velhos” políticos se mirarem nos exemplos de alguns “jovens” políticos e realmente trabalharem em razão daqueles que o elegeram, caso o contrário, as instituições políticas estarão fadadas ao total descrédito da opinião pública – o que não está longe de acontecer -, e aí sim, correremos o risco de nas próximas eleições a maioria dos votos serem em branco ou nulo, o que seria uma catástrofe para o País, pois os bons, os verdadeiros homens públicos, seriam arrastados para o ostracismo junto com os... Vocês sabem. E aí voltaríamos ao período da selvageria ou da barbárie, mas com certeza, distantes da civilização.

 

Marcelo Adriano Nunes de Jesus.

 

 

A Luta Continua.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

ARTIGO: SECOS & MOLHADOS. Por Renata Pacheco.

SECOS & MOLHADOS

 

Por Renata Pacheco

 

 

Nos dias de hoje o que mais se ouve falar é sobre mudanças climáticas, aquecimento global, efeito estufa e tudo o que é ligado ao meio ambiente que se tornou a bola da vez.

Neste final de ano, nós brasileiros fomos informados ou vivenciamos vários acontecimentos ditos como naturais e que nunca antes foram vistos, não da maneira que aconteceu. A voracidade das águas que não eram de março atingiu SC, RJ e MG quase que simultaneamente.

A tristeza comoveu a todos, mas o desespero escolheu somente algumas centenas de brasileiros em especial, talvez para que aprendessem a suportar melhor a dor de recomeçar, ou ainda talvez para que se pudesse colocar em prática a boa e velha lição de “Pollyana” que tirava sempre algo de bom de qualquer situação que lhe surgisse.

Parece que é só isso que nos resta, ao nos deparar com a “onipotência” enfurecida da natureza, que vem arrastando tudo, inclusive pedaços de vidas. Será Deus o responsável por isso, já que Ele é o criador de tudo inclusive da natureza? Creio que não.

Hoje são as águas que nos assustam, porém, a seca assombra varias famílias há anos em regiões do nordeste. Há quem diz que a seca do nordeste é o gancho preferido dos marqueteiros, já que política se faz de popularidade, e quem não se torna popular ao prometer que o sertão pode até virar mar?

 O que assusta mais é ver um grande estado que nunca sofreu com a seca, virar refém dela agora. Um estado que já clamou por independência do seu país ter que fechar as portas de prefeituras a fim de economizar para conseguir levar água e comida para seus habitantes. Mas será que este estado irá “vestir” o que o destino o trouxe, assim como os nordestinos? Ou será que exigirá novos projetos de desenvolvimento sustentável para evitar espalhar junto com a seca, a fome e a miséria?

Estamos diante de um novo dilema: o fim da seca no nordeste seria o fim de grandes estratégias políticas e por outro lado, o inicio de obras visando o desenvolvimento sustentável, seria talvez o fim de uma grande discussão sobre uma nova independência brasileira. Portanto, como o direito a vida é para todos, não seria justo só um sair ganhando, há de se pagar pra ver.

 

13/05/2009

sábado, 18 de abril de 2009

PÃO, CIRCO E A VERDADE

Durante o período histórico conhecido como Antiguidade eram comuns as pessoas se reunirem no Coliseu romano para assistirem aos espetáculos patrocinados pelo Estado.

Entretanto, muitos daqueles eventos que lá ocorriam, nada tinham de belo ou romântico, ao contrário, ali, os cidadãos iam para ver a “morte espetáculo”, o que causava um certo prazer e satisfação aos espectadores. A dor alheia era algo buscado por uma boa parte das pessoas que para lá se dirigiam, sentimento este que não chegou ao fim junto com a queda do Império no séc. V, ao contrário, atravessou o tempo e permanece até hoje entre nós.

                Soa estranho, mas as tragédias dão sempre muito “ibope”, o que indica que uma parcela significativa da sociedade ânsia por notícias em relação ao tema, haja vista um número incontável de jornais que exploram justamente as mazelas alheias serem os periódicos mais vendidos em todo o Brasil. O que justifica tal interesse?

                Um outro ponto não menos importante e talvez mais grave nessa análise, é que culturalmente no Brasil o suspeito de ter cometido um delito é, na maioria das vezes, considerado por essa mesma sociedade que se diz “lutar por Justiça”, como sendo “culpado”, ignorando-se assim, completamente a Constituição, os Tratados, as Convenções e a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos.

                A nossa Lei Maior preconiza que todos têm direito à ampla defesa e ao contraditório, fato que parece ser ignorado por uma boa parte dos meios de comunicações que acabam expondo na mídia não tão somente a vida dos suspeitos, mas à reboque, também de seus familiares, os quais na maioria das vezes, absolutamente nada têm a ver com o caso, mas que em função da falta de responsabilidade e critério na forma como as notícias são divulgadas, também são antecipadamente punidos. Crianças são ridicularizadas por coleguinhas nas escolas, adolescentes são excluídos das suas tribos, famílias são segregadas, enfim, instala-se o caos e a vergonha nessas famílias. Isso é democracia?

                É certo que quem comete um ilícito deve responder por ele, independente de quem quer que seja, isso é fato, mas daí a exposição a público de pessoas que são meramente suspeitas e suas famílias vai uma grande diferença, o que me faz refletir acerca do sentido da democracia presente no pensamento de Espinoza.

                Ainda hoje muito se tem falado a respeito da denúncia de improbidade administrativa que envolveu alguns magistrados do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, fato este que realmente merece ser apurado com todos os rigores da Lei e os envolvidos, se comprovado o dolo, punidos exemplarmente, sobretudo em se levando em conta que o Judiciário talvez seja uma das instituições dentre os Três Poderes que ainda goza da confiança por boa parte da população brasileira, pois raramente vemos seus membros envolvidos em episódios tão tristes quanto esses que o envolveram.

                Mas também existe uma outra questão que não foi explorada pela mídia, talvez por não ser “vendável”. Alguém já parou para pensar se o que ocorreu no TJES foi uma retaliação a uma decisão daquele Egrégio Tribunal contrária a interesses outros e que talvez tenha desagradado a outros interesses? É possível.

                Recentemente, vários juízes do Brasil assinaram um manifesto de apoio ao juiz federal Fausto de Sanctis, inclusive do Espírito Santo, por conta dos desdobramentos da Operação Satiaghara da Polícia Federal. Pode até ser uma idéia surreal, mas que ainda assim não pode ser completamente descartada, pelo menos numa perspectiva microfísica de Foucault.

                Por fim, não estou aqui advogando nem favor nem contra nenhum dos envolvidos no caso, mesmo porque não sou técnico da área de Direito, mas não posso aceitar passivamente que parte da população forme sua opinião pautada apenas em juízos de valores criados por meios de comunicações, alguns sem critério ético, daí minha insatisfação. É importante refletir, analisar para não se incorrer no erro de se cometer injustiças. Erros são cometidos, afinal somos humanos e nessa condição muitos ainda haveremos de cometer, porém, é necessário que não permaneçamos no “Pão e Circo” como parecem querer alguns, o que se traduz na omissão na elaboração de um juízo crítico acerca das coisas. Talvez esse seja um dos piores erros humanos.

                É imprenscindível seguir na busca da verdade que está nas entrelinhas dos discursos.

               

                                                                              A luta continua.

                                                                                                                                                                                                                                          

                                                               Marcelo Adriano Nunes de Jesus.

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Lições de Cidadania no Colégio Estadual Marcílio Dias - Carabuçu - RJ.

                              Com esse lema, a direção do Colégio Estadual Marcílio Dias, localizado em Carabuçu, Nororeste do estado do Rio de Janeiro tendo à frente as professoras Maria Estela e Helena, vêm fazendo um belo trabalho junto aos alunos no sentido de fazer com que eles aprendam fazendo, apoiando todos os projetos nesse sentido.

            Desde o ano de 2008, reiteradas campanhas vem sendo feitas naquele espaço com o intuito de levar aqueles que estão numa situação por deveras complicada, um pouco de esperança e mais, alimentos, roupas e brinquedos, como foi a campanha para os desabrigados de Santa Catarina a qual teve a nossa singela participação, além de inúmeras outras no decorrer daquele ano.

            Durante o ano letivo, bimestralmente é feita a “Campanha do Quilo” entre os alunos do Ensino Fundamental e Médio, e que consiste num quilo de alimento por aluno que evidentemente possa contribuir. Muitos trazem bem mais que um quilo, o que confere sucesso total a campanha.

            Certamente que por mais que se faça, críticas existem, mas para aqueles que se ocupam em criticar maldosamente, sugiro aos mesmos que eles deveriam levantar uma bandeira – seja ela qual for - , e fazer a parte que lhe compete, e não perder tempo em apontar os erros, os quais certamente existem, mas que ao invés disso, venham somar, e não diminuir.

            Só quem trabalha com o social sabe dos inumeráveis dramas vividos pelas pessoas nessas condições. Mais importante do que a felicidade e o empenho dos alunos em ajudar, é a grata satisfação em saber que ainda que minimante, conseguimos levar um pouco de felicidade às pessoas através das nossas ações.

            Na verdade, isso não deveria acontecer, mas já que o problema existe, não adianta ficar apontando culpados  - a História está cheia deles - , não podemos deixar  que tudo seja resolvido pelo Estado, pelo menos nós, enquanto professores, temos a OBRIGAÇÃO de ir além dos conteúdos escolares, os quais diga-se de passagem, não contemplam a Ética e Cidadania enquanto disciplinas obrigatórias, o que é lamentável, mas mesmo assim,  somos responsáveis pela reprodução de erros quando nos limitamos ou nos omitimos naquilo que poderíamos e deveríamos fazer melhor.

            Por último, que o mundo saiba que mesmo num local distante da capital, com uma população predominantemente rural e pobre, conseguimos, ainda que paliativamente, resolver os dramas de algumas pessoas, e vamos continuar fazendo.

            Parabéns ilustres diretoras, em acreditar, permitir e tornar possível nosso trabalho. Muito obrigado!

            Parabéns, queridos alunos e alunas em trazer para o concreto, aquilo que nós aprendemos no abstrato. Sem vocês, nada disso seria possível.

 

Outono de 2009.

 

                        A LUTA CONTINUA.

 

         Marcelo Adriano Nunes de Jesus

            







quarta-feira, 1 de abril de 2009





                DIÁLOGOS, MAS NÃO É O DE PLATÃO.

 

 

            Dizem as más línguas que o Brasil é o país campeão em termos de preconceitos e desconhecimento histórico, o que de certa forma se confirma ao verificar as últimas declarações do nosso presidente que colocou a culpa da atual crise mundial nos “homens brancos e de olhos azuis” além de outras opiniões tresloucadas que se entreouvem por aí.

            Guardadas as devidas proporções, dias desses numa dessas intermináveis filas bancárias em que eu estava apenas para buscar uma informação, não pude deixar de ouvir um diálogo entre duas senhoras acerca de um grupo de ciganos que há dias havia chegado à cidade.

            Eis um trecho da conversa.

            - “Maria”, você viu que coisa horrível?! Como se já não bastassem às várias pessoas estranhas que têm aparecido por aqui, agora apareceu um povo meio esquisito, com dentes de ouro e umas roupas meio  estranhas, acho que devem ser ciganos.

            - Ah, sim, eu vi, e você está certa, são ciganos. Inclusive ontem pela manhã a polícia foi chamada para “revistar” um grupo que estava aqui na esquina, ao lado da farmácia lendo as mãos de algumas mulheres. Vê se pode, tanto lugar para essa gente se “achegar” e eles resolveram vir pra cá! A polícia está certa, tem que revistar, prender e de preferência mandá-los baixar noutra freguesia, pois ouvi dizer que são todos ladrões.

            - É verdade, mas eles estavam roubando alguém?! - perguntou a primeira -.

            - Não, mas por via das dúvidas é melhor prevenir do que remediar.

            - Você tem razão, que coisa!.

            Confesso que esse diálogo mexeu um pouco comigo, sobretudo ao notar que as mulheres estavam bem vestidas e demonstravam poucos erros de português em suas falas, o que denota uma certa instrução. Mas, independente do grau de escolarização e de como as pessoas estão vestidas, considero um absurdo em pleno século XXI - com tantas informações disponíveis e acessíveis - as pessoas ainda nutrirem preconceitos ainda mais em relação à cultura de um povo. Será que elas desconheciam o fato do Brasil ter tido dois Presidentes que foram ciganos, Washington Luis e Juscelino Kubitschek? Pensei.

            O fato, é que no dia seguinte a esse diálogo, fui ao meu “laboratório”, reuni as turmas do 8° e 9° anos do ensino fundamental e disse-lhes que naquela semana iríamos fazer um trabalho de campo; um estudo sobre a cultura cigana e que tinha por finalidade melhor esclarecê-los no sentido de se evitarem injustiças com o desconhecido, afinal, não é todo dia que se tem uma oportunidade como essa.

            Ante a empolgação dos adolescentes com o tema e após insistentes pedidos para fazermos logo o trabalho, resolvi atende-los e fazer a visita ao acampamento naquele mesmo dia.

            Dividi os grupos, passei algumas instruções finais e seguimos nossos “destinos” rumo ao desconhecido.

            Dirigi-me ao primeiro cigano que avistei na entrada da Usina Santa Isabel. Era um homem de meia idade, porém muito educado e solícito.

            - Bom dia, senhor, disse-lhe. Estou com um grupo de alunos do Colégio Estadual Alcinda Lopes Pereira Pinto e gostaria de saber com quem devo falar para pedir uma autorização para fazer uma entrevista com os moradores do local.

            - Ah, sim, bom dia! O senhor pode falar com o “seu” Moacir, ele está sentado bem ali, disse-me apontando o local.

             Agradeci, chamei os alunos e fomos juntos ao encontro do “seu” Moacir.

            - Bom dia, senhor, disse-lhe.

            - Bom dia, retrucou. A que devo a honra de tão bela visita – perguntou -?

            Após me apresentar e explicar-lhe a que tínhamos ido, com uma amabilidade e paciência incríveis, o senhor Moacir respondeu a todas as perguntas que lhe foram dirigidas bem como autorizou nossa visita as várias barracas existentes no local, – desde que também fossem autorizadas pelos moradores –, o que foi permitido por todos, além do fato  de poder  fotografar o que considerássemos importante para o nosso trabalho e entrevistar quem quiséssemos.

            Confesso que foi um grande aprendizado, tanto para mim quanto para os alunos, que a partir daquele instante passaram a enxergar os ciganos com outros olhos; com os olhos da verdade, e não mais com os olhos da superstição e do “ouvi dizer”. Descobrimos muitas coisas interessantes, entre elas, a que qualquer um pode se tornar um cigano, assim como qualquer cigano pode deixar de sê-lo, para isso bastando querer. Admito que desconhecia esse e vários outros detalhes que nos foram passados.

            Outra coisa que também chamou muito a nossa atenção foi a limpeza e o cuidado das mulheres no trato com os utensílios de cozinha. Nunca houvera visto panelas tão brilhantes em minha vida, nem quando novas.

            Um outro fato não menos importante e que também é do desconhecimento de muitos, diz respeito a  religião: se denominam católicos, mesmo  mantendo algumas das suas tradições, como a crença na reencarnação, no destino etc. Mas soube também, que eles se tornam adeptos da religião predominante do lugar aonde estão, isso no caso de ciganos que vivem na Europa, Ásia e África, mas são sempre monoteístas Fiquei tentando imaginar vários ciganos dentro de uma Igreja Católica num domingo de missa. taí uma cena que adoraria presenciar, ainda que em Bom Jesus tivéssemos tido um padre que fora cigano, conforme o caso hoje do monsenhor Paulo Pedro, o qual levava muitos ciganos para o interior da Igreja.

            Entretanto, para assistir a uma missa, eles têm que se “disfarçar”. Passando esmaltes brancos nos dentes para esconderem os de ouro e também usando roupas convencionais para não serem notados. Fazem isso provavelmente para evitar constrangimentos e preconceitos. Deve ser horrível ter que se passar por outra pessoa para poder ao menos rezar em paz!

            Entretanto, sabe-se que a Igreja prega a fraternidade entre os povos e é totalmente contra qualquer tipo de discriminação. O fato, é que essa atitude de alguns ciganos se deve a algum caso isolado ocorrido numa dentre milhares de Igrejas.

            Numa das minhas perguntas ao chefe do grupo, fui bem direto ao assunto, perguntei  como eles faziam para sobreviver. Se existiam falcatruas ou golpes contra os incautos dentre outras coisas do gênero.

            Foi quando ele me respondeu:

            - Meu filho, as pessoas têm o livre arbítrio, a gente educa. Eu tenho pouco estudo, mas aprendi na escola da vida, que é a mais completa de todas, - disse o senhor Moacir do que silenciosamente concordei. E continuou -,  que tudo o que aqui se faz, aqui se paga. Deus não dorme, são esses valores que passamos de geração a geração para os mais novos, mas é possível que haja ciganos que pratiquem o mal, assim como existem maus médicos, maus policiais, maus professores, maus pais, etc. e com os ciganos não é diferente, existem grupos rivais sim, mas que raramente se enfrentam, preferem se evitar.

            - Respondendo a sua pergunta de forma mais direta, - continuou - aqui não prejudicamos ninguém, mas vou te falar uma outra coisa, – e apontou para o meu tênis -. Se eu te ofereço trinta reais pelo seu sapato, você me vende, e lá na frente eu vendo por sessenta, prejudiquei alguém? Perguntou.

            - Não, absolutamente, - respondi -.

            - Pois então, sobrevivemos de trocas, compra e venda. O mundo é dos mais sabidos, disse sorrindo, mas sem nenhuma maldade na sua fala ou no seu olhar.

            - E quanto às mulheres - perguntei - o que fazem?

            - As mulheres são responsáveis pelo sustento da família através das adivinhações. Cuidam da casa e dos filhos, mas os homens também contribuem através do comércio.

            - Ah, sim, disse-lhe concordando com a cabeça. Então são as mulheres as grandes responsáveis pelo sustento da família! Interessante, pensei.

            Por fim, ao contrário do que muitos pensam, os ciganos são um povo muito pacífico, nunca se envolveram em polêmicas criadas por eles próprios. As polêmicas são criadas pelos outros que consideram sua cultura superior a deles, como se isso fosse possível. É um dos poucos povos do mundo que nunca se envolveram em nenhum tipo de guerra. Vagam pelo mundo há milhares de anos e não há nenhum registro histórico que faça menção a qualquer tipo de violência que por eles tenham sido praticados. Ao contrário, na história recente da humanidade, foram eles quem sofreram os maiores horrores durante o Holocausto, mas muito pouco é dito sobre esse episódio, mesmo nos livros didáticos de História, o que é lamentável. As razões dessa amnésia da História? Assunto talvez para um próximo texto, mas estejam certos, elas existem.

            É como dizia Saint Exupéry: “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos”. Noutras palavras, só se respeita àquilo que se conhece, então, que esse texto, mesmo sem o rigor acadêmico, sirva para iluminar a “Carverna de Platão” a qual uma boa parte dos homens vivem..

 

  

                                               A luta continua.

                                                          

 

 

                                   Bom Jesus do Norte, 30 de Março de 2009.

                                          

 

 

                                      Marcelo Adriano Nunes de Jesus.